Os textos de hoje do lecionario (deut. 11:26-21, salmos 31, Rom. 1:16-17; 3:22b-28 e Mat. 7:21-29) talvez estejam entre os mais fundamentais para distingüir entre duas maneiras de se relacionar com Deus e com a questão do discipulado, e podem gerar tanto a mesmice e a obviedade, quanto a possibilidade e a transformação, dependendo da maneira como os escolhamso interpretar.
O assunto central dos textos é A LEI.
Dentro de nosso mundo moderno e positivista, onde tudo é encarado de forma mecânica e funcionalista, falar em LEI é falar em regras, normas, em teorias, em absolutos e em super-simplificação da vida. No entanto, nossa tarefa diante dos textos lidos talvez seja tentar ultrapassar o senso comum contemporâneo e tentar desenvolver ouvidos para ouvir e olhos para ver.
Se mantivermos em mente o que desejamos para quem amamos, bem poderíamos admitir que seja que nossos filhos, amigos mais jovens, aprendizes e companheiros sejam prudentes, se virem bem com a vida, tenha resistência às intempéries e permaneçam por longo prazo como sólidas personalidades, não destruídas por qualquer tensão ou ansiedade. E todos os nossos esforços são feitos no sentido de que alcancemos este objetivo. Eu creio que dependendo de como abordemos a lei do senhor, teremos resultados diferentes.
Se entendermos a lei de forma cartesiana, mecanicista e positivista, considerando a vida um conjunto de verdades simples, fragmentadas, de aplicação legal e determinada, onde nossa tarefa seja a de seguir uma cartilha para o sucesso e controle na vida. Gastaremos nossa energia buscando descobrir essas leis, decorando-as e transmitindo-as autoritariamente, inclusive não admitindo o menor deslize em seu cumprimento. A partir daí criaremos estruturas rígidas e currículos, estabeleceremos especialistas e esperaremos a submissão e a uniformidade.
No entanto, como poderia ser diferente? O que nos diz o texto de Deuteronômio?
Gravem no coração e na mente: estes são locais orgânicos, não papel ou tábuas. A primeira coisa é tornar os princípios de Deus em ações medulares, como se diz em medicina, ou seja, parte de seus reflexos, um modo de agir natural. A descrição poética aqui feita sofreu uma interpretação literal por parte do judaísmo radical. Isso levou as pessoas a amarrarem pedacinhos de textos nos pulsos, na testa, na barra do vestido, a pregar porções da lei na porta de casa e em quadrinhos, a escrever a lei em tudo que era parte visível, esquecendo das invisíveis: o coração e a mente. E gerando assim o legalismo.
O texto segue poético e não literal: Amarrem-na nas mãos, ou seja, que em tudo que você fizer, naquilo que o faz mais ser humano (as mãos), se possa perceber a beleza e a profundidade da ação de Deus. Na testa: a parte mais visível do rosto, o que quer dizer que 'esteja na sua cara'. Que ao olhar pra você, uma criança possa, na hora, perceber e enxergar estes princípios. Quando estiverem no caminho:Que seja parte de sua conversa, da maneira como você fala, não de um momento devocional, ou de uma classe, mas que seja como seu respirar, presente da hora que você levanta à que você dorme, nas atividades do dia-a-dia, que seja ensino na vida e não sobre a vida. Isto demanda coerência - a coisa mais importante para deixar uma marca (ensinar – ensignare: marcar, deixar uma marca indelével). Nos batentes de sua porta: que estes princípios marquem um território. Mesmo que o mundo inteiro funcione de outra forma, que o território de sua casa, da porta pra dentro, seja como uma embaixada, onde as leis vigentes são de outra pátria e a não a do senso comum prevalente. E para que?
Vivemos em um mundo definitivamente mal e medíocre, frutos da ação do anti-reino de Deus. Nossos filhos e amigos enfrentarão tempestades e crises, e não subsistirão se sua vida for calcada em leis, em escolas dominicais, em moralismo e em obediência mecânica.
A rocha que nos sustenta não é a lei, a rocha é Deus e Deus não se explica em dez mandamentos, mas em uma relação complexa e duradoura de fidelidade e amor. Como diz o texto de Romanos, isto quer dizer então que a lei é inválida? De modo algum!
O que isso quer dizer é que a graça é nosso único recurso para nos relacionarmos com Deus, e que reduzir esta relação a regras nos deixa mais pobres. Graça é construir uma vida encarada em sua complexidade e profundidade, intimamente conectada com Deus, sustentada na existência e resistente às tempestades da vida. Na verdade, legalismo e regrinhas são areia, são uma super-simplificação de um alicerce que, infelizmente - assim nos mostra a vida e a prática - não resiste ao menor solavanco.
Uma vida sólida se constrói no caminho, na consciência da relação, na coerência do dia-a-dia, e na dependência da graça. O foco não está em quem é discipulado, educado ou ensinado, mas em quem ensina e educa, e desse demanda-se coerência, conhecimento e fidelidade. Desses espera-se que vivam vidas tão atraentes e de tal forma eficientes, que qualquer um que veja se sinta atraído e tenha como desejo imitar.
Que Deus tenha misericórdia de nós.
O assunto central dos textos é A LEI.
Dentro de nosso mundo moderno e positivista, onde tudo é encarado de forma mecânica e funcionalista, falar em LEI é falar em regras, normas, em teorias, em absolutos e em super-simplificação da vida. No entanto, nossa tarefa diante dos textos lidos talvez seja tentar ultrapassar o senso comum contemporâneo e tentar desenvolver ouvidos para ouvir e olhos para ver.
Se mantivermos em mente o que desejamos para quem amamos, bem poderíamos admitir que seja que nossos filhos, amigos mais jovens, aprendizes e companheiros sejam prudentes, se virem bem com a vida, tenha resistência às intempéries e permaneçam por longo prazo como sólidas personalidades, não destruídas por qualquer tensão ou ansiedade. E todos os nossos esforços são feitos no sentido de que alcancemos este objetivo. Eu creio que dependendo de como abordemos a lei do senhor, teremos resultados diferentes.
Se entendermos a lei de forma cartesiana, mecanicista e positivista, considerando a vida um conjunto de verdades simples, fragmentadas, de aplicação legal e determinada, onde nossa tarefa seja a de seguir uma cartilha para o sucesso e controle na vida. Gastaremos nossa energia buscando descobrir essas leis, decorando-as e transmitindo-as autoritariamente, inclusive não admitindo o menor deslize em seu cumprimento. A partir daí criaremos estruturas rígidas e currículos, estabeleceremos especialistas e esperaremos a submissão e a uniformidade.
No entanto, como poderia ser diferente? O que nos diz o texto de Deuteronômio?
Gravem no coração e na mente: estes são locais orgânicos, não papel ou tábuas. A primeira coisa é tornar os princípios de Deus em ações medulares, como se diz em medicina, ou seja, parte de seus reflexos, um modo de agir natural. A descrição poética aqui feita sofreu uma interpretação literal por parte do judaísmo radical. Isso levou as pessoas a amarrarem pedacinhos de textos nos pulsos, na testa, na barra do vestido, a pregar porções da lei na porta de casa e em quadrinhos, a escrever a lei em tudo que era parte visível, esquecendo das invisíveis: o coração e a mente. E gerando assim o legalismo.
O texto segue poético e não literal: Amarrem-na nas mãos, ou seja, que em tudo que você fizer, naquilo que o faz mais ser humano (as mãos), se possa perceber a beleza e a profundidade da ação de Deus. Na testa: a parte mais visível do rosto, o que quer dizer que 'esteja na sua cara'. Que ao olhar pra você, uma criança possa, na hora, perceber e enxergar estes princípios. Quando estiverem no caminho:Que seja parte de sua conversa, da maneira como você fala, não de um momento devocional, ou de uma classe, mas que seja como seu respirar, presente da hora que você levanta à que você dorme, nas atividades do dia-a-dia, que seja ensino na vida e não sobre a vida. Isto demanda coerência - a coisa mais importante para deixar uma marca (ensinar – ensignare: marcar, deixar uma marca indelével). Nos batentes de sua porta: que estes princípios marquem um território. Mesmo que o mundo inteiro funcione de outra forma, que o território de sua casa, da porta pra dentro, seja como uma embaixada, onde as leis vigentes são de outra pátria e a não a do senso comum prevalente. E para que?
Vivemos em um mundo definitivamente mal e medíocre, frutos da ação do anti-reino de Deus. Nossos filhos e amigos enfrentarão tempestades e crises, e não subsistirão se sua vida for calcada em leis, em escolas dominicais, em moralismo e em obediência mecânica.
A rocha que nos sustenta não é a lei, a rocha é Deus e Deus não se explica em dez mandamentos, mas em uma relação complexa e duradoura de fidelidade e amor. Como diz o texto de Romanos, isto quer dizer então que a lei é inválida? De modo algum!
O que isso quer dizer é que a graça é nosso único recurso para nos relacionarmos com Deus, e que reduzir esta relação a regras nos deixa mais pobres. Graça é construir uma vida encarada em sua complexidade e profundidade, intimamente conectada com Deus, sustentada na existência e resistente às tempestades da vida. Na verdade, legalismo e regrinhas são areia, são uma super-simplificação de um alicerce que, infelizmente - assim nos mostra a vida e a prática - não resiste ao menor solavanco.
Uma vida sólida se constrói no caminho, na consciência da relação, na coerência do dia-a-dia, e na dependência da graça. O foco não está em quem é discipulado, educado ou ensinado, mas em quem ensina e educa, e desse demanda-se coerência, conhecimento e fidelidade. Desses espera-se que vivam vidas tão atraentes e de tal forma eficientes, que qualquer um que veja se sinta atraído e tenha como desejo imitar.
Que Deus tenha misericórdia de nós.
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