quinta-feira, 3 de março de 2011

Como se faz uma revolução cultural

Como fala um amigo meu, de vez em quando a gente publica uma "goiaba roubada" , algo que estava tão bom no terreno de outro que humildemente temos a ousadia de publicar aqui... desfrutem o texto de LAtouche reproduzido abaixo

A via do decrescimento é uma abertura, um convite a encontrar um outro mundo possível. Esse outro mundo nós o chamamos de sociedade do decrescimento.

O convite é a viver aqui e agora, e não em um hipotético futuro que, embora desejável, talvez não veremos nunca. Esse outro mundo, portanto, está também naquele em que vivemos hoje. Está também em nós. O caminho é também um olhar, um outro olhar sobre o nosso mundo, um outro olhar sobre nós. (…)

A "common decense"

A via do decrescimento é, portanto, acima de tudo, uma escolha. (…) É, em todo o caso, um caminho de saída da enorme decadência gerada pela sociedade do crescimento. Um caminho de saída para recuperar a estima de si mesmo. É o caminho para reconstruir uma sociedade decente. Uma sociedade decente, diz o ensaio, é uma sociedade que não humilha os seus membros. É uma sociedade que não produz lixo.

A via do decrescimento é também a "common decense" de George Orwell. A decência comum significa ter controle, estar atento, ser capaz de ter vergonha por aquilo que é feito ao mundo e às pessoas. "Ser desenvergonhado – diz Bernard Stiegler – significa ter se tornado incapaz de ter vergonha". A sociedade do crescimento é um mundo desenvergonhado, um mundo em que reina o desprezo. E o desejo de fugir do desprezo é uma aspiração universal (talvez a única verdadeiramente universal) que se realiza apenas nas sociedades decentes. A ausência de controle, a falta de atenção equivalem à ausência da decência comum definida por Orwell. Um mundo decente talvez não é mundo de abundância material, mas é um mundo sem miseráveis e sem sujeira. (…)

Quando dizemos que o decrescimento é um projeto político, entendemos que é também uma ética, porque, para nós, como para Aristóteles, a política não é concebível sem uma ética, e vice-versa, mesmo que seja oportuno não confundir os dois planos. Uma política que fosse apenas uma ética seria impotente ou terrorista, mas uma política sem ética (como a que vivemos principalmente a partir da reviravolta dos anos 90, do grande salto para trás neoliberal) vê o triunfo da banalidade do mal. (…)

A via do decrescimento é também o da emancipação e da conquista da autonomia. É a busca pela liberdade verdadeira e não da sua caricatura, a do hedonismo desenfreado e sem regras, proposta pela publicidade e pelo marketing e promovida pelo novo espírito do capitalismo, falsamente alegre e de fato mortífero. (...)

A via do decrescimento é uma saída de emergência do beco sem saída da imundialização [immondializzazione, jogo de palavras entre imundo e mundialização]. O caminho do decrescimento é um exílio. É a travessia do deserto rumo à terra prometida, mas é também um oásis no deserto do crescimento. "A revolução – adverte Jérôme Baschet – não tem sentido se ela não é concebida, ao mesmo tempo, como uma festa, se é privada daquelas ocasiões tão importantes como um baile ou uma explosão de risos... É vão querer combater a alienação com formas alienadas... É preciso admitir a impossibilidade de conduzir uma verdadeira luta pela humanidade sem começar a perceber, no próprio processo dessa luta, a verdade da humanidade à qual se aspira, sem reconhecer o direito ao prazer e a necessidade de uma poesia que nada mais é do que o nome dado a uma existência verdadeiramente digna do homem".(...)

O decrescimento é uma arte de viver. Uma arte de viver bem, em acordo com o mundo. O objetor do crescimento é também um artista. Alguém para quem o gozo estético é uma parte importante da sua alegria de viver. (…) Fazer da sua própria vida uma obra de arte não é o objetivo, mas um dos resultados.

A via do decrescimento é uma ascese. Limitando-se ao aspecto curativo e à luta contra a toxicodependência do consumismo, pode-se retomar a ideia de Ivan Illich do "tecnojejum". O decrescimento é um exercício de emancipação das próteses técnicas, uma libertação da servidão voluntária e uma alienação à autonomia.

A via do decrescimento é uma conversão de si mesmo e dos outros. A conversão exigida para realizar a transformação social necessária e desejável pressupõe que se crie uma atitude de acolhida e de abertura a essa mudança. Essa educação é, ao mesmo tempo e indissoluvelmente, saber e ética, resistência e dissidência. (…)

A via do decrescimento é reconquista da realidade e da terra que é o seu princípio. Trata-se de habitar a terra como um território, um lugar de cumplicidade e de reciprocidade. De reencontrar a nossa intimidade com uma dimensão originária. "Hoje, uma linha de horizonte técnica – escreve de modo inspirado Xavier Bonnaud – separa o ser humano da fauna e da flora. Esses elementos que o ser humano tem afastado, enfraquecido e canalizado não produzem mais nele aquelas relações afetivas profundas que derivavam de um contato direto". (…)

A via do decrescimento é a da crítica livre. É a da autolimitação e não do desencadeamento sem freios das paixões tristes. O decrescimento quer retomar o programa de emancipação política da modernidade, enfrentando as dificuldades que a sua realização comporta. A experiência autenticamente democrática instaura uma experiência de transcendência do homem no homem que permite sair das aporias do igualitarismo. Como diz o filósofo belga Robert Legros: "Reconhecer uma limitação dos poderes do homem que não seja uma autolimitação significa claramente admitir uma heteronomia no centro da autonomia. Interpretar essa limitação como uma norma inscrita na humanidade do homem, e não como uma norma de origem religiosa, significa tentar compreender o sentido de uma heteronomia propriamente democrática".

Se o decrescimento e o projeto de construção de uma sociedade autônoma realizam o sonho de emancipação dos Iluministas e da modernidade, não fazem isso por meio de uma desvinculação da ligação com a natureza e do enraizamento na história, mas, ao contrário, reconhecendo a dupla herança da nossa naturalidade e da nossa historicidade. É preciso lutar contra a ilimitação do indivíduo e da sua relação com a natureza que pretendemos criar.

A via do decrescimento é essa luta. A via do decrescimento é uma emancipação da religião do crescimento. Requer, portanto, necessariamente, também um "descrer". É preciso abolir a fé na economia, renunciar ao ritual do consumo e ao culto do dinheiro. Para os teólogos Alex Zanotelli, Pe. Achille Rossi, Pe. Luigi Ciotti e Raimon Panikkar, assim como para Ivan Illich ou Jacques Ellul, a sociedade do crescimento apoia-se sobre uma estrutura de pecado.

Contrariamente à fórmula desventurada da encíclica Populorium progressio, o desenvolvimento não é o novo nome da paz, mas sim o da guerra, guerra pelo petróleo ou pelos recursos naturais em via de exaurimento. Na sociedade do crescimento, não haverá nunca mais nem paz nem justiça. Ao contrário, uma sociedade do decrescimento trará novamente ao seu próprio centro a paz e a justiça.

Não queremos cair na ilusão de uma mítica sociedade perfeita, em que o mal seria erradicado definitivamente, mas sim inventar uma sociedade dinâmica, que enfrenta as suas inevitáveis imperfeições e contradições, dando-se como horizonte o bem comum, ao invés da avidez desenfreada. A via do decrescimento não é uma religião nem uma antirreligião: é uma sabedoria.

Para os objetores do crescimento, a busca dessa via é um dever, mas não é um imperativo categórico de tipo kantiano, embora assumamos o imperativo kantiano assim como reformulado por Hans Jonas: "Age de modo que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana sobre a terra".

Artigo original foi uma goiaba devidamente roubada no site do IHU, para acessar clique aqui

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Los animales y los residuos

Ganadería Urbana: Animales y residuos

Como ya he dicho en otro documento, en el que me propuse una tipología de la basura, la plena actividad biológica que se produce como parte del ciclo de la vida produce tres tipos de subproductos; rechazos, sobras y desechos. Los rechazos son las partes no utilizables de los alimentos y que son así identificados por el usuario: cáscaras, pieles, huesos, etc. Las sobras son una consecuencia de la abundancia - tanto la real como la artificial - y pueden ser encontradas sea en un bosque lleno de frutas como en una “plaza de gula” de un centro comercial. Los desechos son la consecuencia de la actividad fisiológica y constituyen la parte no utilizable en el proceso metabólico de las plantas y los animales que los excretan. Estas definiciones y los términos discutidos en este texto se publicarán aquí en breve.

Rechazos, sobras y desechos constituyen lo que hemos llamado “restantes” orgánicos (Moraes, 2010) y son abundantes allí donde hay vida. Sin embargo, la organización humana en el entorno urbano provoca un cambio en la forma en que estos restantes interactúan con el ciclo de vida. 

En un entorno natural, los restantes orgánicos rara vez se acumulan o contaminan. Para comprobar este hecho basta entrar en un bosque. Por lo general, lo primero que hacemos es hacer una respiración profunda y experimentar el fresco aire. Esto lo hacemos casi inconscientemente, sin darnos cuenta que allí es donde cientos de animales comen, orinan, defecan, dejan piezas, conchas y residuos, rechazan partes de sus alimentos y mueren... todos los días. Pero a diferencia de nuestros vertederos y rellenos sanitarios, no huele nada. Todo material sobrante tiene destino rápido y seguro. Los restos de una actividad biológica son utilizados de forma continua y harmoniosa como fuente de alimento a otra, en un ciclo que comienza y termina en las plantas y los hongos. Estos últimos seres, un elemento clave del proceso entero.

El medio ambiente urbano crea, entre otros males, una falsa sensación de abundancia. Lo que la hace falsa es, entre otras cosas, que esa abundancia no es el resultado de cualquier actividad directamente relacionada con su producción. La tendencia es que todo - o casi todo – a lo que se tiene acceso en las zonas urbanas nos llegue por la mediación del dinero, y través de él logramos la acumulación de bienes innecesarios, de alimentos en exceso y, sobre todo, los descartamos en forma de basura.


La mayoría de las actividades urbanas se destinan a la generación de dinero, un trozo de papel, lo cual generalmente se admite como tener el poder de dar a luz lo que se desea o lo que uno está convencido por el mercado de su necesidad. Con el dinero, y mucho petróleo barato, toneladas de alimentos son transportados, acumulados y agrandan la pérdida de todos los días en las células en los centros de distribución, los vertederos y contenedores de recogida en los centros comerciales y supermercados.

La posibilidad de ganar dinero para llegar fácilmente a lo que usted desea, sin estacionalidad, sin depender del clima, sin restricciones, sin el costo de esperar meses o años, es la regla. Todo esto genera un profundo desprecio por la suerte de los tres subproductos de la actividad biológica. Partes utilizables son despreciados por toneladas. Se generan más residuos de los que se producen en una cocina tradicional, en un bosque o una casa convencional (antiguamente un centro de producción y no de consumo) además de eliminar los residuos fisiológicos que se diluyen en el agua potable en cantidades excesivas. Todos estos nutrientes, a su vez, inevitablemente se transforman en contaminantes en las zonas urbanas, causando problemas, alterando la flora y la fauna, ampliando la frecuencia de las zoonosis y las enfermedades humanas, arruinando la calidad de vida de los desgraciados que viven en zonas cercanas a su desalojo, y la ampliación de la brecha social entre las clases sociales. El resto de orgánicos representan alrededor del 60% del total de residuos producidos por una familia en la ciudad, y como contaminantes dejan de ser utilizados y se convierten en una fuente de problemas.

Frente a esta acumulación de nutrientes perdidos y desperdicio, algunos ya piensan en cómo podrían utilizarlos de manera más inteligente: La producción de más energía para el consumo (uno de los destinos menos nobles de las riquezas de este tipo), el compostaje y la alimentación de animales son algunos de los destinos ofrecidos, aunque por muy poca gente.

El uso de estos nutrientes en la alimentación de la producción de animales en escala, puede ser un destino interesante, y parte de la pregunta: ¿Cómo usar estos recursos para alimentar animales destinados al consumo humano? Esta cuestión, aunque interesante, no cuestiona la forma en que se organizan las cosas en las zonas urbanas. Tal vez si se invirtiera la forma de hacer la pregunta, tendríamos una alternativa aún más instigadora.

Cuando invertimos la pregunta, esta podría formularse así: ¿Qué animales se pueden utilizar para resolver el problema de la eliminación de los rechazos, sobras y desechos?

Tradicionalmente, nuestras abuelas y bisabuelas siempre se hacían esta pregunta y también fueron las precursoras, las promotoras y especialistas principales en la práctica de la agricultura urbana y el manejo de los rechazos, sobras y desechos. La mezcla de animales en las casas de nuestros antepasados siempre ha garantizado la presencia de proteína animal de calidad en la forma de huevos frescos y sin aditivos, carnes frescas procedentes de pollos, conejos y cerdos pequeños al mismo tiempo que la fertilidad en el jardín se había garantizado por la abundancia de lombrices de tierra y otros micro habitantes, alimentados por los desechos y rechazos enterrados, sin olvidar la seguridad de los perros alimentados con nuestra comida y el control de roedores para los gatos que compartían nuestras sobras.

El diálogo de esta práctica con los conocimientos modernos de gestión, selección, nutrición y bienestar de los animales es una buena manera de aumentar la soberanía alimentaria, reducir el impacto de nuestra producción absurda de residuos contaminantes, ayudar en la restauración de los aspectos de la calidad de vida perdidos, y reducir los pequeños inconvenientes con los cuales sufrían algunos de nuestros abuelos.

Volver a conectar nuestras vidas a nuestros compañeros a lo largo de la historia - los animales - es parte de la capacidad de redimir nuestra humanidad, que se pierde en el proceso de una sociedad de consumo enloquecido sobre la base de la apatía, la carrera y la esquizofrenia colectiva. Con ellos podemos promover una mayor soberanía alimentaria, la reducción de los efectos nocivos de nuestra presencia en el planeta y movernos en la dirección de integrar el ciclo de la vida, como hubiera de ser desde el comienzo de nuestra existencia en este planeta. Con ellos podemos alimentarnos con respeto, disfrutar de su compañerismo, reducir el estrés, desconectarnos de la TV (¿Para qué TV si uno puede ver amorosas cabras, pollos felices y conejos jugando?), nuestros hijos e hijas puedan tener una experiencia profunda de la vida y nuestro barrio tiene la posibilidad de ser convertido en un lugar de intercambio, colaboración y de mutualidad. 



En nuestra práctica en la “Finca de la Vid” (nuestra unidad pequeña de agricultura urbana en Curitiba, Brasil) utilizamos actualmente cuatro especies de animales como ayudantes en nuestra gestión de los residuos urbanos: pollos, conejos, lombrices de tierra y cabras. Importamos en nuestro patio trasero de unos 200 m2, entre el 1,5 y 2 toneladas de basura y residuos urbanos al mes, y producimos con esta importación: composta, humus, huevos y verduras en cantidad suficiente para las tres familias que participan en nuestra comunidad intencional y algunos vecinos y amigos. Este año estimamos lograr casi tres toneladas de producción de comida hasta diciembre. Recibimos visitas de vecinos y amigos, de los niños y los reporteros que vienen a vernos casi todos los meses. Con todo eso he tenido el privilegio de ver más vida y la salud derivadas de la gestión de los nutrientes y contaminantes que normalmente se perderían con las políticas públicas convencionales.

Continuaremos publicando, en la medida que se genere la demanda, sobre la gestión de cada especie animal que tenemos y cómo lo hacemos e nuestra “finca urbana”. Consejos y guías, respuestas y solución de problemas serán compartidos. Así que no dude en contactarse con nosotros y hacer preguntas, compartir consejos y éxitos, así como estimular el debate, y si deseas dale a conocer nuestros textos a través de sus redes e interesados.


Gracias por leer hasta aquí, no dude en contactarnos en cualquier momento. 


Claudio Oliver

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Até que seja dia claro

O primeiro ato de intervenção de Deus na criação foi a luz.

Mesmo criado, o mundo era só trevas, sem forma e vazio, sem sentido, significado, ordem e direção. A criação, como todo processo criativo, mostrava-se caótica, reclamando sentido, entalpia e destino.

Disse Deus, haja luz... e houve luz. A partir daí, tudo foi ganhando sentido, tudo que foi se encaixando e quando o processo amadurecia ouvia: é bom, está bom, feito, faz sentido.

Mas a entropia entrou de novo na história, por meio de nós e com tal força que hoje o caos nos visita de novo, pessoal e sistemicamente. Nosso planeta experimenta o sem sentido, nossas instituições e organizações perdem significado, o caos se espalha por todo canto, no ambiente natural, nas cidades, no trabalho, nas relações humanas, na casa e na vida pessoal e na alma da gente.

Depressão, desespero, ansiedade, medo, angústia, incerteza e terror nos cercam por fora e por dentro. Tudo perde o sentido, carece de significado e de direção.

Em meio a tudo isso, brincamos de deus. Inventamos soluções que se mostram mais caóticas do que os problemas que se dispõem a resolver, invocamos os falsos deuses da tecnologia e da indústria para nos ajudar, crendo que aqueles que promoveram os males, proverão a solução por meio do aumento da dose do mesmo veneno que já nos deram. Tentamos colocar ordem interna com psicologismos, fiamos nossas vidas a “terapeutas”, terapeutizamos tudo: casamentos, empresas, ocupações, filhos inquietos, maus alunos e estômagos ardidos, em uma fé cega que insiste em nos ver como enfermos e que confunde saúde com tratamento. A pilula mágica é buscada na química, e a solução para a fome no petróleo. E no fim de tudo, depois de anos de busca... mais caos, mais entropia.

Deus se revela em seu primeiro ato como o Deus da luz. A luz permite ver, estabelecer, colocar no lugar e dar sentido. Ela mostra onde, como, quando e porque. A luz ajuda a discernir o bom do melhor, o razoável do excelente (por favor... esqueça a obviedade entre bom e mal, perfeito e imperfeito... estes são campos de atuação de Deus e quando tentamos opinar sobre esses assuntos só criamos perfeccionismo e cinismo). A luz nos permite ver e perceber quando está bom,quando está feito e quando faz sentido.

A fonte de luz é Deus, e a luz que ilumina vem dele. Esta Luz se faz palavra, se revela nas escrituras, e por fim luz e palavra encarnam em Cristo, que nos abre os olhos para ver e fazer de nós luz do mundo.

E podemos ser luz do mundo, da mesma forma que a lua ilumina a noite: na dependência da fonte eterna do astro rei. Assim , da mesma forma, podemos sim brilhar, mas sempre refletindo a luz que emana de Deus, que se escreve na palavra e que se revela na sua ordem expressa nas escrituras. De Deus vem a luz, a luz se faz palavra e vem até nós, que a podemos refletir ao mundo.

Assim, da mesma forma como o faz a lâmpada, que depende do combustível e da ignição, para iluminar, podemos lançar luz e discernir o próximo passo de nossas vidas, da vida do outro, do mundo ao redor.

A luz se manifesta em obras de justiça, em verdadeiro jejum que abraça o limite, renuncia ao desejo e celebra o sagrado da vida. Em alimentar os famintos, em visitar as viúvas, em manter-se à parte da corrupção do mundo.

Assim brilhe a nossa luz, como luz que reflete a que emana de Deus. Luz fraca, que ilumina o próximo passo, a trilha seguinte, dependente da fonte, ela sim capaz de ver o caminho, de saber o todo, que só se revelará ao final, quando for dia claro e quando mais não sejam necessários candeeiros ou luminares, por que então perceberemos como somos percebidos.

Tenha uma boa semana, que a luz brilhe sobre o caos e sobre a sua vida.

Paz.

Claudio

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

No meio da tragédia, onde está Deus, onde está o diabo?


Dizem as escrituras sagradas dos cristãos que o diabo vem para roubar, matar e destruir.

Diante das chuvas e da desgraça que se abateu sobre meu estado natal, se para alguns é difícil acreditar em Deus, para mim se torna fácil perceber o diabo.

Na loucura da concentração urbana, vejo o diabo seduzindo pela suposta facilidade, de dar um jeito de “viver melhor”, deixar o campo e a lida da roça para se amontoar em encostas na espera de que a sorte e a fortuna - estas que nunca chegam - abram uma porta e deixem entrar um daqueles seduzidos.

Vejo o diabo roubar. No roubo que se faz de espaços tomados da natureza, grilados, invadidos e usurpados. No roubo da propina recebida pelo fiscal, no roubo do político que vende ilusões e compra almas, no roubo dos secretários de obra, frequentemente derrotados em suas aventuras políticas e que usurpam a verdade da competência que lhes falta com a ferramenta do nepotismo que lhes indica. No roubo dos elementos da criação, fixados em matéria plástica que se acumula, entope e cria barreiras para a vida. No roubo de espaço das gentes pelos carros que ocupam mais área que seres humanos e mais trabalho escravo para se ter e manter uma falsa economia e impressão de velocidade. No roubo do tempo de comunidade feito pela TV por meio das antenas parabólicas paranóicas que permanecem de pé mesmo depois das tragédias. Nestes e em outros roubos, tenho de crer no capeta.

Vejo o diabo matar. No assassinato da memória, que força a esquecer a vida no campo, a organização da família em torno do ambiente, a esquecer os rítmos da natureza, as estações e os tempos. Que mata a memória do espalhamento da vila e do despojamento da vizinhança., com a vertical concentração urbana do lucro. Na dolorosa morte lenta da ignorância, morte maior, revelada na teimosia que insiste em ficar onde não se deve, que nega o perigo a si mesmo, que talvez seja o maior e mais diabólico assassinato: o da capacidade do ser humano de ponderar, de refletir, de ser razoável, de não ser bruto, mas suave. Ao ver a tolice forjada na mente de tantas vítimas que por meio da ignorância acabam se tornando os acusados por suas mazelas. A ignorância reina, pois que sendo um povo ignorante, bruto, teimoso e mal educado, mais fácil é de se vender a este ilusões, produtos e de conseguir o poder representativo do voto fácil.

Vejo o diabo destruir, ao induzir a ficar no caminho das acomodações naturais da topografia. Ao adiantar esse processo pelo desmate em troca de lucro, ao ajudar a vista grossa a não ver o grosseiro absurdo de permitir a irmãos e irmãs nossos viverem onde nem as plantas se fixam. Ao estimular a dependência de um mercado que promete em troca de dinheiro, tudo aquilo que teríamos em troca de trabalho. E vejo o diabo destruir a esperança, quando depois disso tudo, sai de fininho e pergunta: Onde está Deus?

Vejo Deus no peito da mãe que perdeu seu filhinho na enxurrada, vejo Ele soterrado ao lado do pai que hidrata o filho com a saliva para este não morrer, vejo Ele tirando entulho, vejo Ele na indignação acordada, vejo-o em cima de uma pedra tentando sinalizar para as pessoas e vejo-o na ira dos olhos de quem se percebe indefeso. Vejo Ele ao lado da vida, indignado, mutilado, escolhendo o lado do fraco e levando a culpa pelo que nós, seguindo o diabo, sabemos que no fim é nossa, de todos.

E se tem um diabo, é aquele que nos divide, nos isola de nós, dos outros e da criação. Diabo, como diz o significado de seu nome, é o que separa o todo, e nos coloca em partes, nos faz esquizofrênicos e sujeitos a sofrer o mal das armadilhas que nos seduzem.

E no fim, o ponto não é saber onde está Deus, nem de onde vem o diabo, mas onde estamos nós com a cabeça ao sermos teimosos, obstinados e insistirmos em crer que a facilidade de nossa momentânea decisão e estilo de vida é só problema nosso e que tudo pode em função de crescer, desenvolver e enriquecer.

Nem sei se é isso tudo, nem sei se é só isso, mas precisava escrever para que as lágrimas parassem de rolar.