quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Até que seja dia claro

O primeiro ato de intervenção de Deus na criação foi a luz.

Mesmo criado, o mundo era só trevas, sem forma e vazio, sem sentido, significado, ordem e direção. A criação, como todo processo criativo, mostrava-se caótica, reclamando sentido, entalpia e destino.

Disse Deus, haja luz... e houve luz. A partir daí, tudo foi ganhando sentido, tudo que foi se encaixando e quando o processo amadurecia ouvia: é bom, está bom, feito, faz sentido.

Mas a entropia entrou de novo na história, por meio de nós e com tal força que hoje o caos nos visita de novo, pessoal e sistemicamente. Nosso planeta experimenta o sem sentido, nossas instituições e organizações perdem significado, o caos se espalha por todo canto, no ambiente natural, nas cidades, no trabalho, nas relações humanas, na casa e na vida pessoal e na alma da gente.

Depressão, desespero, ansiedade, medo, angústia, incerteza e terror nos cercam por fora e por dentro. Tudo perde o sentido, carece de significado e de direção.

Em meio a tudo isso, brincamos de deus. Inventamos soluções que se mostram mais caóticas do que os problemas que se dispõem a resolver, invocamos os falsos deuses da tecnologia e da indústria para nos ajudar, crendo que aqueles que promoveram os males, proverão a solução por meio do aumento da dose do mesmo veneno que já nos deram. Tentamos colocar ordem interna com psicologismos, fiamos nossas vidas a “terapeutas”, terapeutizamos tudo: casamentos, empresas, ocupações, filhos inquietos, maus alunos e estômagos ardidos, em uma fé cega que insiste em nos ver como enfermos e que confunde saúde com tratamento. A pilula mágica é buscada na química, e a solução para a fome no petróleo. E no fim de tudo, depois de anos de busca... mais caos, mais entropia.

Deus se revela em seu primeiro ato como o Deus da luz. A luz permite ver, estabelecer, colocar no lugar e dar sentido. Ela mostra onde, como, quando e porque. A luz ajuda a discernir o bom do melhor, o razoável do excelente (por favor... esqueça a obviedade entre bom e mal, perfeito e imperfeito... estes são campos de atuação de Deus e quando tentamos opinar sobre esses assuntos só criamos perfeccionismo e cinismo). A luz nos permite ver e perceber quando está bom,quando está feito e quando faz sentido.

A fonte de luz é Deus, e a luz que ilumina vem dele. Esta Luz se faz palavra, se revela nas escrituras, e por fim luz e palavra encarnam em Cristo, que nos abre os olhos para ver e fazer de nós luz do mundo.

E podemos ser luz do mundo, da mesma forma que a lua ilumina a noite: na dependência da fonte eterna do astro rei. Assim , da mesma forma, podemos sim brilhar, mas sempre refletindo a luz que emana de Deus, que se escreve na palavra e que se revela na sua ordem expressa nas escrituras. De Deus vem a luz, a luz se faz palavra e vem até nós, que a podemos refletir ao mundo.

Assim, da mesma forma como o faz a lâmpada, que depende do combustível e da ignição, para iluminar, podemos lançar luz e discernir o próximo passo de nossas vidas, da vida do outro, do mundo ao redor.

A luz se manifesta em obras de justiça, em verdadeiro jejum que abraça o limite, renuncia ao desejo e celebra o sagrado da vida. Em alimentar os famintos, em visitar as viúvas, em manter-se à parte da corrupção do mundo.

Assim brilhe a nossa luz, como luz que reflete a que emana de Deus. Luz fraca, que ilumina o próximo passo, a trilha seguinte, dependente da fonte, ela sim capaz de ver o caminho, de saber o todo, que só se revelará ao final, quando for dia claro e quando mais não sejam necessários candeeiros ou luminares, por que então perceberemos como somos percebidos.

Tenha uma boa semana, que a luz brilhe sobre o caos e sobre a sua vida.

Paz.

Claudio

2 comentários:

Fausto Liriano disse...

Genial!!! Un Abrazo!

André Belletti Romero disse...

Parabéns pelo texto Claudio! Muito bom! Glória a Deus pela tua sabedoria compartilhada irmão!