quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Por quê eu desisti de servir os pobres


Quem me conhece e sabe de toda minha trajetória de vida deve achar no mínimo curioso o título acima. Minha família tem como referência central as figuras de meu avô e minha avó paternos que foram fundadores do Exército da Salvação no Brasil. Vidas dedicadas a mendigos, prostitutas, e de maneira especial aos orfãos, enfermos e renegados. Minha paixão adolescente se viu conquistada por lutas contra a pobreza, a fome e a injustiça e desde quando me casei, há 25 anos atrás, estive envolvido com servir em favelas, a estudantes pobres, populações carentes, mendigos, bairros periféricos, desempregados e pessoas sem renda. Tenho no currículo o fato de ter ajudado a gerar renda, facilitar a organização de famílias, feito pontes entre ricos e pobres, alimentado pessoas e dado a oportunidade de que outros descobrissem profissões, estudassem e transformassem seu futuro. “Empoderar” as pessoas, foi um dia um dos pontos chave de minha prática de não criar dependência. Depois de tudo isso, sou chamado a questionar toda a vida e a desistir de servir aos pobres.

Ao longo da vida guardo o hábito de sempre perguntar se o que estou fazendo tem sentido, se diante de meu Senhor e Deus estou com meu coração alinhado à Sua vontade, se não estou errando o alvo. Sigo com disciplina a regra dos três “por quês”, que pergunta a cada resposta dada o tipo de pergunta que só as crianças sabem fazer e que me auxilia a gerar um vetor de mudança permanente, de auto-crítica e de realinhamentos pessoais. Assim, a cada etapa, ao fazer cada coisa pergunto: Por quê? E qualquer que seja a resposta, a ela de novo pergunto: Por quê? Me sinto no caminho quando aquilo que faço ultrapassar o terceiro por quê, e daí sigo adiante.

Já faz algum tempo me pus a refletir sobre a vida de Jesus, sobre o princípio da Kenosis, ou esvaziamento, baseado no texto de Filipenses 2:1-11, sobre a encarnação de Jesus na realidade e sobre os inúmeros contatos e conversas dele com gente tão miserável como os leprosos e tão ricas como publicanos, chefes de sinagoga e príncipes de seu povo; com famílias da classe média, com proprietários e com servos e mendigos. Sobre o que ele via e como agia. E tudo isso foi crescendo e me fazendo pensar no texto de Mateus 5, de ele dizer aos pobres que mantivessem suas vidas no caminho e animados por serem pobres, por que deles era a possibilidade de terem a vida dirigida e controlada por Deus e perceberem Sua boa e perfeita vontade.

Devagar, nos últimos anos, além da reflexão bíblica, tenho observado o quanto vários amigos extremamente sinceros vem e vão, se empolgam e começam a servir e logo se ocupam de volta com seus afazeres e preocupações. Vejo também com que freqüência alguns outros pagam para que alguém cumpra o serviço de Deus e fazem isso por tempos determinados e movidos da maior das sinceridades, ainda que de longe e sem envolvimento pessoal.

De uma outra perspectiva observo o quanto a pobreza se entranha na vida dos pobres, e quanto esta somente revela muitas vezes seu desejo mal sucedido de possuir, de ter acesso ao consumo destruidor de tudo, de como sua situação se constrói pela sedução das mesmas coisas que seduzem e destroem os ricos. O mesmo individualismo, o mesmo egoísmo, a mesma tendência a sentir-se confortável e identificado com a posse das coisas. E a adesão inegociável a um estilo de vida e modo de pensar que os prende ao mito da necessidade moderna, ao desejo mítico de evoluir e à submissão ao mito do desenvolvimento.

Igualmente a ricos, pobres e remediados, o mesmo convencimento de que o que precisam é de algo que o mercado, o dinheiro, o governo ou alguma agência pode lhes oferecer. Que serão felizes com a posse, com a pança cheia (uns com pão, outros com brioches) e com o fluir permanente do dinheiro que tudo pode e tudo resolve. E dentre estes, alguns bem intencionados estendem a mão para “incluir” outros no estilo de vida ou no patamar que alcançaram. À mão estendida de cima para baixo, chamamos serviço.

Descobri ao longo dos anos que a própria posição de servir aos pobres, de compromisso com a libertação, estava cheia de superioridade, daquele tipo de superioridade que se traduz por dar ao outro o que eu tenho, uma vez que sutilmente assumo com meus atos que o que eu tenho ou faço era o que ele deveria ter ou fazer, uma tradução percebida na sutil arrogância das tais políticas de “inclusão”, sempre buscando colocar o outro dentro da caixa onde vivo, incluído no meu estilo de vida.

Tudo isso foi me levando a desistir de servir os pobres. Ainda que nem de longe me alinhando com aqueles que a este ponto, do alto de sua riqueza, conforto e bem estar possam estar dizendo “ta vendo? É isso que eu sempre pensei.” Lamento informar a estes que nem de longe creio em seu estilo de vida separado do contato com o pobre, com o desvalido, o faminto, o nu, o feio, o mal cheiroso, o inculto e o bárbaro. Não me alinho com aqueles que pagam seus impostos ou contribuem para caridade dizendo assim estar cumprindo seu papel. Não é disso que falo. A estes continuo retransmitindo a mensagem de Jesus, confrontadora de seu estilo de vida cego, insensível e arrogante, uma mensagem que chama de loucura aquilo que estes chamam de segurança.

Desisti de servir os pobres por outra razão.

Desde 1993, quando saí para as ruas com um bando de meninos e meninas na direção das populações de rua, havia desenvolvido uma mística de, a cada saída nas noites frias de minha cidade, não ir encontrar mendigos, ou carentes. Sempre dizia aos garotos àquela época que eu nunca me disporia a servir pão a um mendigo, ou fazer-lhe a cama, ou vestir sua nudez. Nosso moto, naquele tempo, era “encontrando Jesus na pessoa do pobre mais pobre”. Servir, alimentar e vestir Jesus era nossa motivação, isso sim me animava. E descobrimos com aquelas saídas, que a cada encontro desse com um Jesus assim disfarçado, que os chamados miseráveis se transformavam em mestres, em denunciadores de nossa miséria pessoal, de desmascaradores de nossos mecanismos de manipulação e nos víamos, de repente, espelhados neles, usando as mesmas desculpas, mentiras e escaramuças para ter o que queríamos. Talvez com um pouco mais de sucesso, e certamente simplesmente com mais sorte social, e mecanismos de segurança. Mas descobrimos à época, que nós éramos eles.

Aqueles que se descobriram assim, se libertaram, cresceram e mudaram. Confrontados por Jesus e ensinados por ele no contato com suas próprias pobrezas e misérias, descobrimos, muitos de nós, o que eram boas novas. Naquele tempo, e daquele tempo, muitos fomos transformados pelo toque de Jesus e pela boa nova que ele nos tinha a transmitir como pobres que nos descobrimos.

No entanto, nem sempre esta mística foi mantida como chama acesa, voltei tantas vezes a servir aos pobres, a me deixar levar pela possibilidade de estar na posição de ajudador e fui me esquecendo muitas vezes de minha própria miséria.

Como disse acima, ficar longe dos pobres e julgar suas atitudes e descaminhos do alto do conforto de minha posição social superior não é a alternativa que exponho aqui. Ajudar os pobres, conscientiza-los e inclui-los se mostra um mito, mais um daqueles nascidos no desenvolvimentismo dos últimos 60 anos. A alternativa que apresento é outra, traduzida no encontro, no reconhecimento e na identificação.

Desisti de ajudar os pobres, de servi-los e de salva-los. E isso porque tenho re-descoberto uma verdade dura: a de que Jesus não tem nenhuma boa notícia para quem serve os pobres. Jesus não veio trazer boas notícias a quem serve os pobres, ele trouxe uma boa notícia aos pobres. Ele não tem nada a dizer a outros salvadores, a quem disputa com Ele o cargo de Messias, de Redentor. A agenda de Jesus só traz uma mensagem aos que se reconhecem pobres, nus, feridos, cansados, sobrecarregados, carentes e sem esperança. Aos demais, sua agenda tem pouco ou nada a oferecer

A única maneira de permanecer com os pobres é se descobrimos que somos nós mesmos os miseráveis, é se reconhecemos a nós mesmos, ainda que bem disfarçados, naquele que está diante de nossos olhos. Ao encontrarmos neles nossa miséria, ao nos dar-mos conta de nossa carência, da desesperada necessidade de sermos salvos, ai nos encontramos com a agenda de Jesus.

Deus não se apresenta em nossa capacidade de curar, mas em nossa necessidade de sermos curados. Descobrir esta nossa fraqueza nos coloca sem nada para oferecer, servir, doar, mas revela nossa necessidade de sermos amados, curados e restaurados.

Por ai é que faz sentido que o poder que existe em nós não é o poder de nossas capacidades e riqueza, mas o poder residente em nossa miséria pessoal, tão bem escondida e disfarçada em nossas posses e estabilidade. Como diz Jean Vanier em um livro que li recentemente: “Somos chamados a descobrir que Deus pode trazer paz, compaixão e amor através de nossas feridas”

Como passou a fazer sentido o texto que fala do Messias, e que diz: pelas suas pisaduras, fomos sarados. Os demais messias tendem a escapar do exemplo de Jesus de esvaziar-se a tal ponto de ser um de nós, de morrer conosco e de abrir assim a porta da ressurreição para nós.

O poder que Jesus usou para nos curar e continuar curando não reside em seu acesso ao poder universal, mas em sua identificação conosco na cruz. Em se abrir em chagas e feridas, em se tornar um de nós, em viver nossa vida.

Desisti de servir aos pobres. Estou voltando a encontrar os pobres e me encontrar neles. Voltei a descobrir a miséria que se esconde nas vidas bem montadas de nossa falsa segurança. E com isso posso entender o Jesus que fala com leprosos e com ricos homens de negócios, com cobradores de impostos em suas festas e com enfermos miseráveis. Em sua identificação com todos e cada um Ele via o que talvez mais ninguém via: a extrema miséria e pobreza da condição humana, independente de qualquer status ou roupagem social.

Passei a reencontrar minha pobreza, a me ver em cada situação de miséria, e de me colocar em contato com minhas dores internas. Dali clamar por cura, libertação, comunidade e amor. Pedir misericórdia e ser restaurado.

Quem serve, serve de cima, Jesus nos chama a encarnar a nos vermos no outro e a nos colocarmos por baixo. A deixar de confiar em nossa capacidade e mudar o rumo para irmos ao encontro de nossas feridas e dores. De lá descobrir o poder que existe em sermos menos e não mais.

Desisti de servir aos pobres. Voltei a descobrir minha pobreza. E com ela posso clamar: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim”

23 comentários:

Dago disse...

Sacada dura.
Anthony de Mello fala algo sobre fazermos o bem pra (a) nos sentirmos bem ou (b) não sentirmos culpa. As duas são atitudes egoístas, sendo q a primeira é melhor com certeza. De qqr maneira ambas são de cima pra baixo, sutilmente. Servir o pobre-separado-de-mim é uma atitude de poder. Queremos ser alguém nessa vida: poder (sutilmente, pra variar). Substituir amor por poder ("poder" no sentido de "eu posso, tenho o q é necessário") é a norma desde q "quando vcs comerem do fruto, vcs serão como Deus", segundo Henri Nouwen.
Desisti de servir aos pobres. Frase dura, Claudio. Valeu.

Anônimo disse...

Gosto das palavras. Sempre que estou diante de alguma situação de pobreza e exploração é comum ouvir uma pergunta bastante automática: "você não senten pena?". Nada automatica foram minhas respostas: "Sim, de mim e de você". É mais fácil a vida quando se sente pena do outro e se oferece uma ajuda, como quando se toma um dorflex para resolver nossa dor de cabeça. O que, séculos após séculos de história ainda não entendemos é que o problema somos nós, e nossa é a tragédia dos fatos. O dorflex não da conta de muita coisa, apenas continua estimulando nossos organismo a não sentir, a ajuda á não ver. Não ao outro, mas, a nós mesmos.

Cerestino disse...

Irmão....

Você acabou comigo!

A partir de hoje nem sei se será válido acordar pela manhã.

Claudio Oliver disse...

Acorda sim... vai ser bom, como sempre é.... encontrar a cada manhã a misericórdia de Deus... causa de nunca sermos destruídos

Alex Z disse...

Sou um Individualista, Existencialista, subjetivista pós-moderno e qquase um nihilista (não porque eu queira), tomei conciência de que a vida da forma em que estamos organizados não faz nenhum sentido,é a caverna da qual não conseguimos sair e como disse Quintana "Como alguém que estivesse comendo uma empada de camarão sem
camarões
Num velório sem defunto..."
Mas creio em Jesus apesar de ser um miseravel inapto e incapaz de praticar a maior parte de seus ensinos...

Joel Jr. disse...

Olá, Meu Irmão.

Você conseguiu traduzir em palavras o que tenho sentido. Encarnar o Evangelho é muito, mas muito mais do que fazer assistencialismo com míseros 2% das entradas dos dízimos, já que esse é o máximo que boa parte das igrejas faz para cumprir a sua responsabilidade social.

Tomei a liberdade de separar alguns trechos deste texto e publicá-los num post no meu blog. Também coloquei um link para o seu blog. Espero que não se incomode.

Um abraço fraterno.

Lucas Parisi disse...

Estou impressionado...
até q enfim leio algo pleno, sendo cristão, sem excluir (sim, creio q cristaos tb excluem pessoas, afinal diriam alguns: o problema sao os ricos, o sistema)...
A luta de classes é uma balela se pra ela olharmos com armas nas mãos. Sustentaremos o mesmo problema se aos pobres dermos apenas a capacidade de "subirem de classe social"...Deus tem mais aos pobres, mas a partir do momento que nós que com eles estivermos, tb sejamos pobres. Somos semelhantes, a partir do momento que no mundo o céu, agora, esteja presente!

Escreva-nos mais...


ps.: não sou rico!

Danilo disse...

Ola gente boa de Jesus!
Olá Claudio!

Belo artigo! Não é alimento para qualquer um!

Estou passeando na net para conhecer blogs cristãos, saber o que o povo está buscando e falando... E para divulgar meu blog, o Genizah.

Muito legal o trabalho que vocês fazem aqui! Parabéns.

Vou seguir vocês e espero pela oportunidade daquela troca de irmão em Cristo aqui ou no meu blog, se você me der a honra e prazer da visita.

Genizah é um blog de apologética cristã com uma boa dose de humor. Nosso time é formado por escritores, pastores, humoristas e chargistas cristãos.

Espero que goste. Paz e Bem!

Danilo

http://www.genizahvirtual.com/

Alice disse...

...levaste-me a repensar, pensar, confabular e agir...e o melhor de tudo, foi o agir.

Texto e pensamentos divinos.

super abraço de sua mais nova fã.

Alice

www.verdadesnuas.blogspot.com
www.alicenopaisdopensamento.blogspot.com

Alex Malta Raposo disse...

Belo texto.

Parabéns, meu irmão.

Fui muito abençoado aqui.

Se quiser visitar a minha singela e humilde página, o endereço é www.vivendooevangelho.blogspot.com

Anônimo disse...

De que pobreza vocês estão falando? De que pobres vocês estão falando? O pobre da época do Nazareno é o mesmo pobre de hoje? A pobreza é a mesma?
Passar fome é pobreza ou é miséria. Não ter o que comer é pobreza ou miséria? Morar em barracos de papelão é pobreza ou miséria? Dormir junto com ratos, baratas... é pobreza ou miséria? Qual será a reação de Jesus diante de pessoas que vivem no lixão? Qual será a reação de Jesus diante de milhões e milhões de crianças que morrem de fome em todo o planeta Terra? Qual a reação de Jesus diante de pessoas que morrem por não terem acesso a água potável? Qual será a reação de Jesus diante de pessoas que escrevem falando de fome, mas nunca passaram fome na vida? Qual será a reação de Jesus diante de tanta desigualdade social? Qual será a reação de Jesus diante de um mundo que coloca pessoas na condições de miseráveis e não de pobres?
Só sei que é muito fácil escrever coisas em um computador quando tem gente que não tem pão para comer e nem sonho para sonhar...
Eu não tenho a pretensão de convencer ninguém das minhas idéias e nem de achar que sei o que Jesus faria diante de um mundo que cada vez mais fala Dele e não vive como Ele viveu e vive. Eu acredito um Jesus que não desistiu de ninguém, de ninguém mesmo.



Glória

Claudio Oliver disse...

LEia de novo, quem sabe você entende. E se não, deixe pra lá.
Quem sabe sou eu que não sei me expressar tão bem assim.
E quem sabe, o anonimato de sua identidade não deixe você ver o anonimato das ações alheias. MAs no fundo? Deixa pra lá

Anônimo disse...

rsrsrsrsrsrsrsr Minha intenção não foi agredir ninguém com minhas perguntas. Eu realmente quero saber sobre a pobreza da época de Jesus e sobre a pobreza de hoje. Acho que eu é que não sei me expressar muito bem, portanto, quero pedir sinceras desculpas ao Sr. Claúdio e dizer que costumo ouvir as pessoas mais experientes que eu, pois sei que como ainda não fiz duas décadas de vida, tenho muito que aprender, inclusive com ele, que mostra ser uma pessoa íntegra, sábia, experiente e decente e que sabe acolher as idéias/opiniões divergentes com a mesma serenidade com que acolhe as idéias/opiniões concordantes. Vou ler novamente seu artigo, pois, apesar de não parecer, eu não costumo perder meu precioso tempo lendo coisas que não me dizem nada e seu artigo não faz parte dessa categoria. Sei que sou uma completa desconhecida para o senhor e que minha opinião não tem nenhuma importância para o senhor e nem para os outros participantes do blog, portanto, peço que não leve em conta meus questionamentos.
Eu não vou deixar o seu artigo para lá porque sei que o senhor merece todo o meu respeito e a minha admiração pela sua trajetória de vida. Quero dizer mais uma vez que não tive o propósito de usar meu anonimato para desrespeitar as idéias/convicções/crenças/opiniões de ninguém. Peço desculpas mais uma vez se fui ofensiva ao invadir seu espaço, afinal, o blog é seu e e de certa maneira, fui mal educada ao escrever, sendo uma desconhecida para o senhor.
Procurarei entender o que senhor quis dizer e se por acaso não entender, vamos atribuir a minha imaturidade, falta de leitura e quem sabe, falta de sabedoria e até mesmo inteligência rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsr.
Muito obrigada por ter se preocupado em responder meu comentário, mesmo não concordando com o mesmo, sendo generoso em atribuir minha ignorância a sua inabilidade em escrever.


Abraço fraterno.


Glória

Claudio Oliver disse...

Bem estou gostando do diálogo. Aliás , palavra que se divide em dois e que vai e volta, acrescentando a ambos pois o que se divide se multiplica.
Bem, a questão que vc levanta é a da definição de pobreza a partir de um único critério, o da pobreza econômica e financeira, um aspecto da pobreza que tem muito mais a ver com os elementos da modernidade que com os da antiqüidade clássica. Outros elementos, como a propriedade e o acesso aos meios de produção e, voltando mais ainda, a posse da vida, da mente e corpo dominados por outrem, o acesso à justiça.. são outros elementos do que se pode chamar de pobreza dos tempos de Jesus, e indo mais atrás ainda , nos profetas e na Torah, os ani, ebyon dal e Rash (quatro nomes traduzidos como pobre) e que se sobrepõe como os pobres por causa de uma calamidade, os pobres devido à opressão, os pobres devido à sua própria preguiça e os pobres por serem incapazes (como uma viúva da época ou um aleijado). MAs acima de tudo ser pobre é algo da condição humana, pobre de si mesmo, pobre de Deus, pobre de achar que tudo se resolve pela propriedade, por segurança ou por riqueza. Ao ser ver como Deus nos vê, uma pessoa se desespera e se percebe no fim da corda, a ponto de perceber-se enganado. Ai clama, ai busca, ai implora. E ai pode ser Ezequias, o rei pobre de Saúde, ou Davi o Rei pobre de amor e de caráter, que mata o amigo por meia hora de prazer, ou pode ser o pobre moço rico, que depois segue Jesus envolto em um lençol por ter vendido tudo e dado aos pobres, ao ver sua pobreza revelada no amor de Jesus. OU o pobre sem pão, que se encontra com o padeiro, e ambos se dão conta de seu nada, buscando tudo em Deus.
E acima de tudo, estar com os pobres, ser amigos deles, e ser um deles, e encarnado em suas histórias se perceber miseravelmente possuidor de um pouco mais de sorte.
E estar lá, mais que tirar alguém de lá que nos salva. Assim como o Cristo, que sendo rico, se fez pobre para nos enriquecer Nele.
Bem, conversar com você pode ser uma glória.
Me escreva no email , que se for o caso, seguimos na conversa

Hermes C. Fernandes disse...

Parabéns pela lucidez e coerência. Um dos textos mais complexos e desafiadores que tenho lido na web nos últimos tempos.

Que não entendeu, leia novamente.

Lysts29 disse...

É difícil viver as verdades do mundo
quando o seu coração não se sente à vontade........
ótimo texto.

Unknown disse...

Sem sombra de duvidas, talvez o melhor texto por mim lido na rede.

Claudio Oliver disse...

Obrigado débora e Lysts
tentei entrar e ocntato com vocês mas não consegui por meio de seus perfis.
De qualquer forma é uma honra ser lido por gente tão atenciosa.
Qualquer coisa... sintam-se a vontade em entrar em contato

Márcio disse...

Mano simplesmente bombástico e avassalador... tudo que eu precisava ler vc escreveu... se puder conheça o nosso projeto www.umclamorporniteroi.com.br e se puder nos ajude!

Abração
@pastormarcio

Cláudio Costa Da Silva disse...

Achei seu texto via outro blog, achei interessante o título e cai na asneira de lê-lo (risos) me fez um bem enorme, me despi de conceitos e pré-conceitos. Vou repassá-lo aos meus contatos e principalmente ler quantas vezes for necessário para reconhecer a pobreza que existe dentro de mim.

Abraço fraterno

Charqueadas RS

Hugo Lucena Theophilo disse...

Cláudio, quem são os responsáveis pela lucidez de um homem? Preciso agradecer pela sua.

flavia disse...

Vi um trecho deste artigo no Bacia das almas e me chamou a atenção, não só pela minha inclinação em questionar modelos e padrões, mas porque realmente me levou a fazer perguntas sobre minha própria condição.
A coisa toda de achar que a felicidade se resume a ter e que só se é quando se tem e que quem não tem não pode ser.
E aí nós achamos que somos porque temos, mas na verdade não somos, porque ser é muito mais que ter.
E por acharmos que só é quem tem, passamos a contaminar àqueles que não tem e muitas vezes são com a nossa visão distorcida do que é ser.
Realmente precisamos tirar as lentes do materialismo ao ler as escrituras, porque estamos querendo transformar o mundo, mas transforma-lo em que?
NOSSA!!!!!
Como é que ninguém pensou nisso antes?
Como ninguém pensou que na verdade os pobres somos nós, que os doentes somos nós e que queremos simplesmente contaminar a todos.
Como ninguém antes se sentiu envergonhado ao entrar na casa de alguém que julgava "pobre" e percebeu que na verdade era muito mais pobre, cego e nú?
Vou passar mais um tempo meditando sobre isso. Me senti envergonhada e equivocada oa pensar em quantas vezes achei que o meu estilo de vida é o que todos desejariam ter.
Foi muito bom vc ter compartilhado isso conosco.
Que Deus continue despertando mais e mais pessoas desse sonho do consumismo e nos levando a enchergar o que é realmente importante.
Um abraço

Flavia

Unknown disse...

Em tempos em que pregam a prosperidade e saúde dentro do Evangelho creio que encontrei algum motivo em seu texto para reflexão.
Parabéns.
Renato Moraes