terça-feira, 19 de junho de 2012

Crise Ambiental e Cristianismo Cúpula dos Povos


Crise Ambiental e Cristianismo: o papel da Igreja na sustentabilidade

Uma mesa de Diálogo com Marina Silva, Michelon e Dellambre
Cúpula dos Povos – durante Rio +20
Claudio Oliver

Como algumas pessoas me pediram, segue abaixo a transcrição de minha fala na mesa de diálogo realizada no dia 16/6/2012, no Rio de Janeiro

“Que bom é que se reúnem representantes de igrejas para poder falar sobre a crise ambiental e poder ver a igreja finalmente se debruçando sobre este tema.
Obviamente não se pode deixar de notar que esta preocupação e debruçar chegam com 20 anos de atraso (seriam 40? O que estávamos discutindo quando o relatório do Clube de Roma nos alertou quanto à necessidade de darmos limites ao crescimento em 1972?). Vinte anos de atraso para a igreja moderna perceber algo mais quente no ar.
Igualmente é bom que se esteja discutindo tal tema, pois pelo menos se pode observar que parte da igreja deixa de confundir o fim do presente sistema ou do sistema-mundo (aion) com o fim da criação (Kosmos). Consciente ou inconscientemente, isso representa a retomada de uma tradição que inclui a vitória sobre a morte, a perspectiva da restauração e a retomada da responsabilidade sobre o planeta como expressão da relação com Deus.
No entanto, essa possibilidade implica em um risco de, sem perceber, se continuar permitindo que a narrativa a dirigir e informar a agenda e a ação da igreja (como tem sido praxe na história moderna da igreja) continue sendo imposta de fora para dentro, a partir do centro e da lógica do sistema e do império presentes.
A relação do ser humano com a terra abre e fecha a narrativa bíblica. Somos seres formados da terra fértil (Adamá), não da argila pouco intemperizada . Somos seres do horizonte A do solo. Adamá é a matéria prima da qual é feito Adam ( o ser humano), ou se preferir a versão latina, o húmus que dá origem  à humanidade e também à humildade, posição necessária para se aproximar e tratar do assunto. Nossa rebeldia foi a primeira coisa a trazer maldição sobre a terra, o solo se torna gerador de plantas daninhas e de luta para comer (Gen. 3:17). Da mesma forma no fim da Bíblia, os vinte quatro anciãos cantam a pauta que guiará o julgamento  final: “E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra.” Apocalipse 11:18 (sem grifo no original). Ao deixarmos de lado essa abertura e fechamento do tema nas escritura - e o fato de que o tema da terra e de seu cultivo estão presentes em um de cada três capítulos da Bíblia - para assumirmos a lógica do sistema (a da economia e das finanças) e do Império presente (o do deus mercado e de seu único e suficiente mediador: o dinheiro) como ponto de partida – agora como uma tal “economia verde” - patinamos, somos mais uma vez rebocados e corremos o risco de deixar de enxergar possibilidades.
Na minha humilde opinião, insistir em não tocar em algumas “vacas sagradas”, em alguns “dados como certo”, nos coloca na posição e na agenda que nos leva de reboque por um mundo que corre em velocidade máxima  para o abismo e para o colapso. No mínimo, e por misericórdia, tal posição pode nos fazer inócuos diante do quadro atual.
Algumas “vacas sagradas do sistema precisam, como eu disse, ser desafiadas: 
- O MITO DO PROGRESSO ETERNO. Um mito que só pode ser crido por um louco ou por economistas da ordem presente, que crêem em um crescimento permanente em um mundo finito, sem se darem conta que a única coisa a crescer indefinidamente é um câncer. Este mito que divide e oprime seres humanos que optam pela vida simples como se fossem cidadãos de segunda categoria, ou que acusa de sectários aqueles que não aceitam acriticamente a máxima de que todo progresso é benvindo. Foi o progresso que deu origem à próxima vaca sagrada.
-A CRENÇA NO DESENVOLVIMENTO COMO OBJETIVO. Ao ser aceito como objetivo a ser buscado, a busca pelo deenvolvimento nos desvia de um outro objetivo estabelecido e proposto por aquele que nos chamou a ser sua igreja. Ele não disse “ Eu vim para que vocês se desenvolvam”, mesmo que esse desenvolvimento seja sustentável. A razão pela qual Ele veio e nosso objetivo proposto por ele é outro: a vida abundante, uma expressão infelizmente confundida com vida com excesso, como a que nos propõe a lógica do consumo e da intermediação monetária, seja esta consciente, sustentável ou qualquer outra. Precisamos reencantar e reassumir a abundância como opção ao excesso, e nos arrepender do excesso de tudo que o mercado nos oferece, de comida a educação, de facilidades a delegação de responsabilidades. E para que todos tenham acesso a esta abundância é mister que se mexa em outra “vaca sagrada”: A ECONOMIA.
-Essa ciência somente existe se crermos, como ela e seus promotores insistem em repetir, em um mundo escasso, o que coloca Deus em uma posição de incompetência de origem como criador, ao ter pensado e realizado tal mundo sem capacidade de sustentar-se. E nos diminui a seres cheios de necessidades ilimitadas, das quais somos insaciáveis, o que nos transforma na imagem e semelhança de uma bactéria patogênica causadora do consumo (o nome antigo da tuberculose). Esta auto-imagem de consumidor nos afasta  do caminho proposto do domínio próprio e da celebração dos limites, da renúncia e do sagrado. Conceitos que estão na origem do caminho proposto pelo mestre.
-Precisamos recordar que o termo “desenvolvimento sustentável” foi estabelecido pela médica norueguesa Gro Harlem em 1983, como reação à constatação feita pelo Clube de Roma  quase onze anos antes de sua invenção, de que era imperativo IMPOR LIMITES AO CRESCIMENTO. Esta constatação deu origem a uma outra agenda bem mais interessante: a do DECRESCIMENTO (proposta por Nicholas Georgescu-Roegen, o pai da bioeconomia e propagandeada hoje por Serge Latouche). Mas antes de tudo, ela nos remete a lembrança de algo muito anterior e próprio do cristianismo: aprender a viver satisfeito, celebrar os limites, abraçar a renúncia e sacralizar a vida – aqui ditas não como palavras bonitas mas como proposta de agenda agressiva e antissistêmica radical. Na minha humilde opinião esta me parece muito mais coincidente com o ensino do mestre Jesus e com o caminho que a de um desenvolvimento, seja ele de que tipo for. Jesus é aquele que assumiu sua agenda pelo princípio da Kenosis (o esvaziamento das prerrogativas e direitos). Impõem-se a nós a mesma atitude que nele houve (Fil. 2:5) e a prioridade de assumir uma “agenda kenótica para o planeta” COM URGÊNCIA! Abrindo mão de direitos e assumindo, ou reassumindo, as nossas obrigações. Deixando de lado os sonhos de grandeza, não só dos mascates da telefé, como se costuma ter em mente, mas também de nossos pequenos reininhos ministeriais e colocando no lugar desses sonhos, a imaginação necessária para se aprender a viver uma vida simples, pacata e quieta. Abrindo mão de prerrogativas e voltando a indicar o caminho pelo exemplo e não pela liderança.
Por fim, podemos assumir uma postura de lealdade se voltarmos a lembrar à imagem de quem fomos criados e a partir dessa imagem construir outras narrativas a nos informar para a vida. Como já disse, não somos consumidores, a defender nossos “direitos”.  A primeira declaração da Bíblia é de que somos imagem e semelhança de um Deus generoso, criativo, bondoso e cuidadoso nos detalhes. Ele nos colocou em um jardim para o observar (Avad) e para o guardar e preservar ( Shamar), Gen. 2:15. Olhar para a terra como nosso origem, nossa casa e nossa primeira identidade, como gente do solo, é reassumir tais princípios e assim nos colocarmos na dianteira de uma mundo que sofre com dores de parto e aguarda a manifestação daqueles que se chamam a si mesmos de “filhos de Deus”
A Ele , toda a glória.”

domingo, 22 de abril de 2012

TRANSTORNO DE DEFICIT DE CONTATO COM A NATUREZA

Faz muito tempo que não posto nada aqui.
Estava eu escrevendo sobre o TDCN, quando me perguntei se alguém já não teria traduzido e feito algo aqui no Brasil. Encontrei o Blog do DEFENSOR DA NATUREZA que fez o trabalho de traduzir e atualizar o material. Dai desisti de minha postagem original... depois a publico. Aqui fica como uma introdução ao tema para os novos no assunto.
Assim que eu tiver tempo ou escrever sobre o analfabetismo ambiental de nossas crianças e como revertê-lo. Por enquanto fique com a bela tradução abaixo.
Ai vai:

Transtorno da falta de contato com a Natureza (Nature Deficit Disorder), é um termo criado pelo escritor e jornalista norte-americano Richard Louv em seu livro de 2005, Last Child in the Woods (Tradução: A Última Criança nas Florestas). Refere-se à alegada tendência de as crianças terem cada vez menos contato com a natureza, resultando em uma ampla gama de problemas de comportamento. Esta doença não é ainda reconhecida em qualquer um dos manuais de medicina de transtornos mentais, como o CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) ou o DSM-IV (Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos Mentais) nem é parte da proposta de revisão deste manual

Louv alega que as causas para o fenômeno incluem o medo dos pais, acesso restrito às áreas naturais, e da atração pela TV ou computador. A pesquisa recente tem gerado um contraste maior entre a diminuição do número de visitas aos Parques Nacionais nos Estados Unidos e aumento do consumo de meios eletrônicos por crianças.

Richard Louv passou 10 anos viajando pelos EUA entrevistando e conversando com pais e filhos, tanto em áreas rurais e urbanas, sobre suas experiências na natureza. Ele argumenta que a cobertura da mídia sensacionalista e os pais paranóicos têm assustado as crianças de freqüentarem áreas naturais (matas, campos...), enquanto promove uma litigiosa cultura do medo que favorece a prática de esportes seguros com regras ao invés de brincadeiras criativas.

Ao reconhecer essas tendências, algumas pessoas argumentam que os seres humanos têm um gosto instintivo para a natureza, a hipótese da biofilia, e adotam certas medidas para passar mais tempo ao ar livre, por exemplo, em educação ao ar livre, ou através do envio de crianças a jardins da infância (Forest Kindergarden) ou escolas (Forest Schools) na floresta, que são escolas especiais criadas nos Estados Unidos e países da Europa, onde as crianças ou estudantes brincam e aprendem do meio de uma mata preservada ou bosque utilizando os elementos que encontram na nestes ambientes. Talvez seja uma coincidência que os adeptos do movimento Slow Parenting (pais sem pressa)* enviam suas crianças para educação em ambientes naturais, ao invés de mantê-los dentro de casa, como parte de um estilo livre de educar os filhos

*O movimento Slow Parenting (pais sem pressa) defende que “menos é mais”: menos coisas, menos actividades, menos pressa, menos pressão, menos expectativas. Mais tempo para crescer fará as crianças mais felizes. É um estilo de educação dos pais em que poucas atividades são organizadas para as crianças. Em vez disso, elas são autorizadas a explorar o mundo ao seu próprio ritmo. O movimento Slow Parenting tem o objetivo de permitir que as crianças sejam felizes e fiquem satisfeitas com suas próprias realizações, mesmo que isto não pode torná-las mais ricas ou mais famosas. Os pais das crianças de hoje são frequentemente encorajados a repassar o melhor possível de suas experiências de infância, para garantir a estas crianças o sucesso e felicidade na vida adulta.

A natureza não é apenas para ser encontrado em parques nacionais. O capítulo "Jardim do Eden em um terreno baldio", de Robert M. Pyle (página 305)* enfatiza a possibilidade de exploração e fascínio em pequenas áreas que podem ser lotes desocupados de terrenos com vegetação nativa, e se alegra com as 30.000 lotes sem construção em Detroit, que surgem devido à decadência no centro da cidade.

*Children and Nature: Psychological, Sociocultural, and Evolutionary Investigations (2002). Eds. P. Kahn; S. Kellert. MIT Press. Essay "Eden in a vacant lot: special places, species, and kids in the neighborhood of life"


Causas

Os pais estão mantendo as crianças dentro de casa, a fim de mantê-los a salvo de perigo. Richard Louv acredita que podemos estar protegendo exageradamente as crianças de tal forma que se tornou um problema e prejudica a capacidade da criança de manter contato com a natureza. O crescente temor dos pais de "perigo desconhecido", que é fortemente alimentada pelos meios de comunicação mantém as crianças dentro de casa e no computador ao invés de explorar ao ar livre. Louv acredita que esta pode ser a causa principal de transtorno da falta de contato com a natureza, uma vez que os pais têm um forte controle e influência sobre a vida de seus filhos.

Perda de paisagem natural no bairro ou cidade de uma criança. Muitos parques e reservas naturais têm acesso restrito e placas de advertência "não ande fora da trilha". Ambientalistas e educadores ainda adicionam a restrição ao dizerem às crianças "olhe, mas não toque". Enquanto eles estão protegendo o ambiente natural, Louv questiona o custo dessa proteção na relação as nossas crianças com a natureza

Aumento de atrativos para passar mais tempo dentro de casa. Com o advento do computador, videogames e televisão as crianças têm mais e mais motivos para ficar dentro de casa, "A criança norte-americana gasta em média gasta 44 horas por semana com mídias eletrônicas"

Efeitos

As crianças têm limitado respeito ao ambiente natural mais próximo. Louv diz que os efeitos do transtorno da falta de contato com a natureza para os nossos filhos será um problema ainda maior no futuro. "Um ritmo crescente nas últimas três décadas, aproximadamente, de uma rápida perda de contado das crianças com a natureza tem profundas implicações, não só para a saúde das gerações futuras, mas para a saúde da própria Terra." Os efeitos transtorno da falta de contato com a natureza poderia levar a primeira geração em risco de ter uma expectativa de vida menor do que seus pais.

Podem se desenvolver transtornos da atenção e depressão. "É um problema porque as crianças que não tiveram um contato com a natureza parecem mais propensas à depressão, ansiedade e problemas da falta de atenção". Louv sugere que ter atividade ao ar livre em contato com a natureza e ficar na calma e tranquilidade pode ajudar muito. De acordo com um estudo da Universidade de Illinois, a interação com a natureza tem provado reduzir os sintomas dos transtornos da atenção e depressão em crianças. Segundo a pesquisa, "No geral, nossos resultados indicam que a exposição a ambientes naturais nas atividades comuns após as aulas ou finais de semana pode ser muito eficaz na redução dos sintomas de déficit de atenção em crianças." A teoria da restauração da atenção desenvolve esta idéia , tanto na recuperação a curto prazo de suas habilidades, como na de longo prazo para lidar com o stress e adversidades.

Seguindo o desenvolvimento dos transtornos da atenção e depressão e transtornos de humor, notas mais baixas na escola também parecem estar relacionados com o transtorno da falta de contato com a natureza. Louv afirma que estudos realizados na Califórnia e na maior parte dos Estados Unidos mostram que os estudantes das escolas que utilizam as salas de aula ao ar livre e outras formas de educação utilizando experiências com a natureza apresentaram significativamente melhor desempenho em estudos sociais, ciências, artes, linguagem e matemática. Fonte: Artigo Orion Magazine March/April 2007

A obesidade infantil tem se tornado um problema crescente. Cerca de 9 milhões de crianças (6-11 anos) estão com sobrepeso ou obesos. O Instituto de Medicina afirma que nos últimos 30 anos, a obesidade infantil mais do que duplicou para os adolescentes e mais do que triplicou para crianças de 6-11 anos. Fonte: National Environmental Education Foundation

• Em uma entrevista publicada na revista Public School Insight, Louv citou alguns efeitos positivos do tratamento de transtorno da falta de contato com a natureza: “Tudo a partir de um efeito positivo sobre a atenção estendendo para redução do stress a criatividade, o desenvolvimento cognitivo e seu sentimento de admiração e de conexão com a Terra. "

A ONG No Child Left Inside Coalition (Coalizão “Não deixe as crianças dentro de casa") trabalha para levar as crianças para atividades ao ar livre e de aprendizagem ativa. A ONG espera resolver o problema do transtorno da falta de contato com a natureza. Eles agora estão trabalhando para aprovar uma lei nos Estados Unidos que aumentaria a educação ambiental nas escolas. A ONG defende que o problema do transtorno da falta de contato com a natureza poderia ser amenizado por "despertando o interesse do estudante para atividades ao ar livre" e estimulando-os a explorar o mundo natural por conta própria.