Eis ai uma daquelas frutas que se toma na mão ao passar por uma cerca de uma fazenda cheia de frutos maduros. Uma goiaba deixada para matar a fome de famintos como eu:
Textos antigos nem sempre foram antigos. Isso pode parecer bastante óbvio, mas vale a pena lembrar. A carta de Paulo à comunidade cristã de Roma foi uma vez uma correspondência contemporânea a uma determinada comunidade em um determinado lugar e tempo. E como este nosso tempo, aquela era uma época de um império.
O que aconteceria se uma carta como esta fosse escrita para nós no contexto de nossa atual crise econômica global? Que linguagem o autor usaria se ouvisse música contemporânea, visse cinema contemporâneo, e sentisse a dissonância entre bancos sendo salvos pelos governos enquanto aos vizinhos do dia-a-dia são entregues os avisos de despejo? Como seria a carta aos Romanos se fosse escrita não há dois mil anos atrás, mas na semana passada?
Esta não é uma forma realmente nova de abordar um texto antigo. Na verdade, quando os rabinos liam a Torá para os judeus da diáspora, eles faziam exatamente esse tipo de coisa. Reconhecendo que suas congregações não entendiam mais o hebraico, os rabinos traduziam o texto que liam. E suas traduções eram certamente não literais. Pelo contrário, eles atualizavam o texto, aplicando-o ao contexto do momento, e colocando-o em linguagem contemporânea. Os resultados de tais exercícios de interpretação foram chamados targums, paráfrases estendidas do texto.
O que se segue, então, é um Targum de Romanos 1:16-32.
Diante do colapso da visão de mundo dominante no Ocidente moderno,
Me dá vergonha quando o consumismo e a ganância são abraçados em nome de um falso evangelho cristão da riqueza.
Diante da crise do capitalismo,
Me dá vergonha quando os cristãos abraçam a livre iniciativa como a escolha econômica do próprio Deus.
Diante das milhares de pessoas que morrem diariamente de desnutrição,
dos milhões que vivem em pobreza extrema,
e do mundo vivendo à beira da depredação ecológica irreparável,
Me dá vergonha que tanta boa gente cristã apele para "Romanos 1"
para legitimar sua homofobia esculhambando gays e lésbicas.
Estes são, a meu ver, evangelhos de conteúdo vergonhoso.
Eles me fazem sentir derrotado, sem graça, e irritado.
Mas eu não me envergonho do evangelho de Jesus Cristo.
Este evangelho é nada menos do que o poder de Deus para a restauração.
Um poder capaz de destroçar os argumentos do império,
destronar suas verdades presumidas,
desvelar suas mentiras para que se veja o que elas são na verdade.
Por que não estou envergonhado do evangelho?
Porque através do seu poder, a vida é colocada nos eixos.
Por que não estou envergonhado do evangelho?
Porque nele encontramos uma justiça não conseguida através da violência imperial,mas através da fidelidade de Jesus Cristo
que suportou essa violência
em uma cruz imperial.
Por que não estou envergonhado do evangelho?
Porque essa vergonha iria paralisar-me,
tornar-me-ia incapaz de atender ao apelo à fidelidade,
e assim me enfraqueceria a ponto de não ter energia para viver para a justiça.
Retidão, justiça, fidelidade - tudo à sombra do império.
Este é o fruto do evangelho
que nós desejamos proclamar e engendrar
nesta comunidade.
Então, vamos ser claros sobre o que está acontecendo nestes dias.
Não vamos participar deste bla-bla-bla de correções do mercado
ou mau comportamento do mercado.
Não vamos tentar salvar essa barca furada dos tolos
com bilhões e bilhões tirados dos contribuintes.
Não, meus amigos, isso é conversa para boi dormir e nem arranha a superfície do problema.
O que está acontecendo na atual crise econômica
é nada menos do que a ira de Deus
sendo revelada contra toda impiedade,
toda injustiça, toda a ganância, todos os falsos evangelhos,
e todas as vidas distorcidas que eles produzem.
Mas em um império de mentiras,
em uma economia de mentiras,
não é nenhuma surpresa que nos tornemos tão prontos a
suprimir a verdade de Deus,
que é algo simples e da própria natureza da criação.
Que parte do caráter finito e gratuito da criação, não foi atingida
quando adotaram uma ideologia de ganância infinita,
de insaciável consumo,
de uma constante expansão e de uma economia cada vez maior?
A própria natureza da criação
não nos dá o testemunho de um Deus de abundância radicada na justiça?
A essencial bondade da criação
não nos dá testemunho da generosidade desse Deus?
O lugar da humanidade na ordem das coisas
não nos ensina que todos são chamados à imagem do Criador
por meio do amor e cuidado para com a criação?
Então aqui está a triste verdade, meus amigos:
este império da ganância,
nesta narrativa de crescimento econômico,
este castelo de cartas: tudo é baseado em mentiras e enganos.
Toda essa cultura de consumo,
este império absoluto do dinheiro
é baseado na ignorância obstinada.
A criação proclama uma maneira melhor
porque a criação é testemunha de um Deus de graça.
Mas temos que suprimir essa verdade,
envolvidos na negação e no encobrimento.
Recusando-nos a viver uma vida de gratidão,
recusando-nos a viver uma vida agradecida ao Deus
que suscitou uma criação tão rica,
Recusando-nos a honrar esse Deus Criador,
e abraçando uma cultura de direitos e ingratidões,
abandonamos o Deus da luz e abraçamos as trevas.
E em todas as nossas teorias complexas,
em toda a nossa conversa econômica sofisticada e incompreensível,
nós nos tornamos inúteis em nosso pensamento
acabamos com muita conversa, mas sem sentido,
teorias vazias,
vaidade das vaidades.
E nós pensávamos que éramos tão sábios,
pensávamos que tínhamos tudo planejado,
mas a piada caiu sobre nós,
e agora ficou claro que temos sido tolos.
Vejam bem: Isso é o que acontece quando vocês ficam na cama com os ídolos.
Isso é o que acontece quando vocês não conseguem
enxergar Deus na justiça exercida de forma integra
mas abraçam imagens esculpidas,
imitações baratas,
que parecem tão boas,
parecem tão poderosas,
mas que sempre vão deixar vocês na mão,
sempre serão breves
porque são impotentes.
ídolos vazios, mentes vazias.
ídolos mudos, vida de insensatez.
Traição e decepção.
Medo e terror.
Abracem o ídolo do economicismo,
Acreditem em suas falsas promessas de abundância,
permitam que suas vidas sejam moldadas pela ganância do ídolo,
e vocês irão colher a falência dessa falsa fé,
vocês se tornarão "viciados em avareza"
vocês serão pegos pela idolatria da ideologia,
e suas vidas serão remodeladas à imagem do ídolo, que lamentável.
Abracem o ídolo do economicismo,
Acreditem em suas falsas promessas de riqueza e poder,
e vocês irão encontrar-se enfrentando uma vida "Sem opções",
Vocês acabarão com uma vida restrita e limitada,
presa em um momento do qual vocês não poderão sair,
e da liberdade econômica que vocês sonhoram obter, vocês vão despertar para a realidade
de valores perdidos,
de terrorismo internacional,
de um planeta espoliado.
E Deus diz: "Para o inferno com vocês."
E Deus diz: "Façam a sua cama e deitem-se nela."
E Deus diz: "Vão em frente se lambuzem indecentemente com seus ídolos."
E Deus diz: "eu vou deixar esses ídolos lambuzarem vocês de volta com seu nojo."
Meus amigos, não estamos perante uma crise econômica.
Estamos enfrentando uma crise espiritual.
A questão não é, fundamentalmente, de mercados.
A questão é idolatria na raiz e fundamento da nossa sociedade,
na raiz e fundamento de nosso modo de vida,
na raiz e fundamento da nossa própria alma.
Somos chamados a viver na verdade,
somos chamados a encarnar a verdade em nossas vidas,
mas nós temos negociado a verdade por uma mentira.
Nossa imaginação foi capturada e feita cativa,
dificilmente podemos sonhar como seria a vida fora do controle da idolatria;
mal podemos imaginar uma vida que não seja escrava do consumo;
não podemos sequer começar a fazer nossas cabeças girarem em torno da justiça e da retidão;
generosidade e contentamento são estranhos para nós,
e uma economia do suficiente é impossível conceber,
muito menos de viver.
E é tudo tão vazio,
tudo é tão insensato,
é tudo tão sem sentido.
Temos ido para a cama com os ídolos,
e não temos intimidade com o Senhor.
Nós temos dobrado o joelho à idolatria
e não adorado o Criador
que é bendito eternamente. (Amém)
Tendo abraçado a idolatria da cobiça insaciável,
Tendo sido capturados por uma idolatria do consumo,
nossos desejos são pervertidos,
nossas paixões ficam à solta,
e nós ficamo perdidos em uma “terra da fantasia” sexual, que é mortal.
Nossas jovens empacotam-se como produtos sexuais,
prontas para consumo.
Nossa sexualidade é divorciada da intimidade da aliança
e reduzida ao entretenimento carnal barato.
Mas isso não acontece por que Deus nos criou como seres sexuais.
Tudo isso é uma traição de quem nós somos chamados a ser.
A imagem de Deus é pervertida por tal idolatria sexual.
E lembrem-se, os ídolos são insaciáveis.
Eles sempre exigem sacrifícios e nunca estão satisfeitos.
E eles têm um apetite terrível por crianças.
Não existe nenhuma idolatria separada do sacrifício de crianças.
E esta é a devastadora verdade da nossa cultura.
Assim como a economia vai exigir o sacrifício de toda a criação
para alimentar sua sede de crescimento cada vez maior,
Da mesma forma uma idolatria sexual insaciável exige o sacrifício sexual de crianças.
Esta é uma cultura predatória,
e as crianças são as vítimas mais vulneráveis.
Este é o fruto amargo da idolatria.
Esta é a sexualidade do império.
Então não é nenhuma surpresa que o Deus que nos permite tal ânsia insaciável,
e que nos permite ter esta vontade pervertida,
também nos permita uma visão deturpada de vida,
um espírito de deboche.
Isso é o que acontece quando vocês se recusam a reconhecer a Deus
porque vocês estão muito ocupados se enroscando com os ídolos!
Mas não se enganem!
Essa cópula idolátrica dá frutos ruins
de uma vida profundamente distorcida,
cheia de desejos maus,
de cobiça, de ódio,
de inveja, de morte,
quebrando a comunidade e destruindo famílias,
cheia de arrogância, de desrespeito insolente,
de tolice, de infidelidade,
e de uma crueldade que nasce de um coração
que virou as costas para o amor.
Tudo isso,
essa imaginação,
essa visão de mundo,
esta prática cultural,
este modo de vida,
-Tudo isso está a serviço de uma cultura de morte.
Então não se surpreendam se essa cultura morrer,
e não se surpreendam que este modo de vida venha a matá-los,
mesmo que vocês e todos os seus aplaudam com alegria quem vive desta maneira.
E vamos ser claros.
Eu não estou falando sobre “eles”
de alguma forma, em contraste com um “nós”.
Não, meus amigos, estamos nesta merda juntos.
Estou falando de mim.
Estou falando de você.
O texto original é Brian Walsh e pode ser lido aqui
Um comentário:
Cláudio, obrigado pela tradução. Desse processo aqui de ter a consciência desperta você tem feito parte. Mas por falar em merda (rsrs), o minhocário nos baldes está dando certo aos trancos e barrancos...rs. Obrigado por isso também. Abração.
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