quarta-feira, 30 de julho de 2008

Contra o que lutamos?

Um texto bastante conhecido, mais pela beleza literária e poética do que pela plena compreensão das implicações que o mesmo encerra é aquele que fala da armadura com a qual precisamos estar cingidos para as lutas do dia-a-dia.
Os componentes do kit de sobrevivência para quem deseje passar pela batalha da vida e sobreviver estão ali descritos: verdade, justiça, a mente em estado de alerta quanto ao que seja realmente uma boa notícia e de onde vem a paz (não do poder estabelecido mas da periferia do império), uma inabalável esperança calcada na confiança e credibilidade de Deus, o que nos ajuda a combater o “realismo” dominante que tenta cooptar ou domesticar o possível, a restauração de áreas outrora caóticas de nossas vidas; o manejo e o conhecimento da Palavra de Deus feito com expertise e arte; a prática da oração e da súplica por si e por outros como forma de manter-se em posição adequada de humildade e dependência.
No entanto, e apesar de estas já serem em si orientações extremamente relevantes, é no foco da luta da vida que eu gostaria de gastar um tempo hoje.
O texto diz que nossa luta não é contra sangue e carne. Isso quer dizer que quando nos damos conta de contra quem lutamos, chegamos à conclusão de que nenhum ser humano é, ou pode ser considerado, o objetivo contra o qual lutamos. Eleger inimigos, sejam eles pessoais ou genéricos, dando a eles nomes próprios ou de grupos (homosexuais, direitistas, esquerdistas, machistas, patrões, sindicalistas, conservadores ou liberais) é perder de vista o ponto e simplificar a luta ao rótulo que alguém ostenta e errar o alvo.
Meu inimigo nunca é meu irmão, seja ele quem for. Mesmo que ele se considere meu inimigo, mesmo que ele ou ela pessoalmente me odeiem.
O texto diz: nosso alvo são "poderes e autoridades"; em grego archia e exousia. Para deixar mais claro diz “contra os dominadores deste mundo tenebroso” e mais “contra forças espirituais do mal”. Quando chega nesse ponto o passo mais fácil é dar um pulo e espiritualizar tais conceitos e começar a caçar fantasmas e capetas em tudo que é armário. Vamos com calma.
Tudo tem lá a sua espiritualidade, um sopro que anima cada coisa, e esse sopro pode ser para a vida ou para a morte. A maior bobagem é tentar entender o mundo sem a compreensão de que o que nos anima é sempre uma forma de espiritualidade. A busca de consumo desenfreado, a luta de poder e o prazer a qualquer custo são demonstrações de valores animadores, de um convencimento de que a vida é para ser consumida, usufruída e uma fonte de prazer egoísta. Isso é uma espiritualidade. E anima o mercado, governos e o marketing, basta olhar.
O texto nos lembra que nossa luta não é contra o dono do supermercado, contra a pessoa do político ou o marqueteiro. Nossa luta, e ela existe, é contra o sistema que torna possível tal estado de coisas, animado por um tipo de espiritualidade destrutiva e corrosiva, além de antropocêntrica e insustentável.


É o sistema que torna tal estado de coisas que é nosso alvo de luta. É seu desmantelamento que promovemos, e não sua melhoria. Nesse sentido o chamado cristão é e sempre foi revolucionário, indesejável e ameaçador.
O sistema de poder e domínio que controla o mundo, que induz ao uso de transportes poluentes, que consome hoje sem levar em consideração o futuro de filhos e netos, que enfeia tudo e borra toda arte, beleza, harmonia e poesia, que reduz a cultura ao entretenimento, que escolariza crianças para se tornarem servos do mercado e recursos consumíveis numa roda viva de busca de dinheiro, que joga uma massa de adolescentes e jovens na apatia e no adormecimento, que considera a violência, contra o cidadão ou contra o bandido ou o do outro time, como algo banal e justificável, que afasta mães e pais de seus filhos oferecendo “cuidados” integrais para que aqueles continuem uma vida de escravidão ao trabalho, que transforma a tudo e a todos em commodities e que no fim de tudo oferece um carnaval ou uma religião do “pare de sofrer e ganhe sempre”, que acha tudo desnecessário e radical desmerecendo a alternativa, ora perseguindo-a ora tratando com descaso, que come carne demais e cozinha de menos, esse sistema é que deve ser combatido.
Da mesma forma a igreja combateu os valores e espiritualidade do Império Romano, da mesma forma os profetas combateram os sistemas dos reis de cada época, do mesmo modo os artistas denunciaram as ditaduras e cantaram seu fim. Somos chamados a nos insurgir e viver em desacordo com os poderes e autoridades deste mundo tenebroso, super aquecido, poluído e dominado pelo mercado.

Somos chamados a, em meio à pressão para consumir, sermos moderados, em meio à busca de prazer, praticar a renúncia, em meio à pressa, andar de bicicleta e a pé, quando pressionados a viajar, aprender a ficar, quando o caminho fácil for o video-game, reaprender a brincar com o filho, desligar a TV e passear no quarteirão. A dizer não obrigado ao governo e às autoridades e cuidar de nossa própria vida com nossa própria força e autopropulsão.
A entender que o que precisamos não é de mais, é de menos, e que uma nova espiritualidade está ao alcance da mão, e dela podemos receber a animação para a vida.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Um dia de Funeral






Há um ano escrevi este texto, em 10 de Julho de 2007. Achei que, passado um ano, seria interessante reler e ajudar a alguns a entender o contexto do que vivemos por aqui.
Se servir de algo para alguém, ficarei feliz.
Abraço
Claudio


Por que vir à igreja no Domingo de manhã?

Por que vir à igreja no Domingo de manhã?
Por que se dedicar a obras sociais, às artes, a fazer o bem ou embelezar o mundo ou cuidar sustentável e ecologicamente das coisas?
Por que criar filhos melhores do que nós, tentar ter casamentos e administrar a vida de forma saudável?

As respostas que recebo geralmente soa um reto-tono, Por que me sinto bem, porque me faz sentir parte do corpo, porque alimenta minha fé, porque Deus fala comigo, porque sou edificado, porque aumenta minha visão... e por ai vai
O que percebo? à EU , EU, EU
Mesmo quando ouço “nós”, a maioria das vezes é um nós com sotaque de Eu.
O que poderia ser uma boa Razão para nós, deveria estar calcado em nossa fé. Mas fé em quê?

A maioria das boas pessoas do mundo tem fé.
Fé em um ideal, em um mundo melhor, um desejo de bem e uma cornucópia metafísica de possibilidades. Sinceramente, estes ideais, desejos e sonhos, por mais belos que sejam, por mais puros e cheios de boa intenção, apresentam pouca consistência comparados à materialidade do mal, à realidade das sombras, do egoísmo, do autoritarismo e dos poderes que nos cercam opressivamente na forma de governos, autoridades e do mercado.
Diante de tais forças, o idealismo ganha não mais que tapinhas nas costas e uma sensação temporária de consciência e merece ser chamado realmente de falsa consciência.
Calcar nossa ação no desejo de uma vida melhor é só isso: Falsa consciência e auto-engano, e se a razão for de natureza religiosa só resta chamá-la pelo nome: falsa crença.

O cristianismo, desde sua origem, se mostrou distinto de tudo que ai está por um motivo básico: A razão de nossa fé está atrás e não à frente de nós. Não é nem mesmo a Nova Jerusalém ou o Céu, uma coroa ou uma cidade idílica, que moveu à frente os cristãos desde o princípio, nunca foi. Só a religião da cristandade, fundada no idealismo de Platão, lançou para frente e de maneira idílica e desencarnada, o motivo que originalmente esteve sempre atrás do ponto de vista histórico.

A nossa razão está descrita em I Cor. 15 e é só uma: JESUS RESSUSCITOU!

O que quer dizer isso?

Vejamos o texto:

1-8 Irmãos, quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei, o qual vocês receberam e no qual estão firmes. Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão. Pois o que primeiramente a lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo.

Respondendo à primeira pergunta:
A partir da subida do Senhor Jesus aos céus, os primeiros cristãos, bons judeus que iam à sinagoga todo sábado e ao Templo para orar sentiram que faltava algo, que o que haviam testemunhado era muito grande.
O que nos faz sair de casa e ir encontrar os amigos, celebrar com estranhos e parar tudo e decretar feriado? O dia da independência, o descobrimento, a república.
Pois estes cristãos estavam diante de algo maior que tudo isso e com mais provas concretas e materiais que a descoberta do Brasil. (que, aliás, foi achado e não descoberto...)
O amigo deles, seu líder, foi preso como preso político, torturado, crucificado, exaurido de seu sangue, baixado por alguns deles, esfriou, ficou roxo, duro, foi colocado em uma sepultura, ficou três dias lá e depois saiu andando, comeu com eles, ficou aparecendo por 40 dias, convivendo, dando instruções, abraçando, cozinhando para eles, e depois se reuniu com 500 deles para se despedir e subiu ao céu flutuando, e eles viram!
Tinham de marcar uma data e um feriado, mas uma vez por ano era pouco, uma vez ao mês não dava, toda semana era melhor, logo de manhã, para lembrar, contar esta mesma história, inúmeras vezes, e se alegrar e animar uns aos outros diante de uma crescente oposição e começar a viver animados pelo que havia acontecido, mudando sua relação com dinheiro, posses, casamentos, prioridades.
Como o tempo passa e as novas pessoas chegam, eles foram espalhando a história e demonstrando aqui e ali, com sinais e prodígios, com vida alternativa e com curas, com milagres e novas prioridades que o que falavam era de verdade. E nem todos os fins de semana nos últimos dois mil anos seriam suficientes para parar de celebrar.

Pois bem, Uma vez que Jesus ressuscitou, eu saio de casa e vou encontrar meus amigos, celebrar, comer junto e não faço mais nada DECRETO FERIADO! E se por força maior sou obrigado a fazer alguma coisa, me lembro que é dia do Senhor, paro onde estiver e celebro. Por que um outro mundo é possível e está atrás de mim, e não num desejo lançado à frente de forma idealista.

11 Portanto, quer tenha sido eu, quer tenham sido eles, é isto que pregamos, e é isto que vocês creram.
Agora o que acontece quando eu não vou me reunir no Domingo de manhã? Nem me envolvo com nada? Nem me transformo diante das demandas do mercado, do estado e da sociedade? Na prática só tem uma resposta, oposta à anterior: é por que, independente mesmo de meu assentimento com o fato histórico da ressurreição, para mim, Jesus não ressucitou. Pois se ele não ressuscitou, para quê tomar minha cruz a cada dia e seguir? Se ele não ressuscitou, para que priorizar parar minhas atividades e estar com os irmãos? Para quê me envolver com um mundo melhor? Para quê ser ético?

12 - 14 Ora, se está sendo pregado que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como alguns de vocês estão dizendo que não existe ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm.

E tem mais uma implicação:

15 Mais que isso, seremos considerados falsas testemunhas de Deus, pois contra ele testemunhamos que ressuscitou a Cristo dentre os mortos.
E mais:

17 E, se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados.
Sabe como deve ser visto alguém que se envolve nisso tudo por qualquer outra razão?

19 Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão. 30-32 Também nós, por que estamos nos expondo a perigos o tempo todo? Todos os dias enfrento a morte, irmãos; isso digo pelo orgulho que tenho de vocês em Cristo Jesus, nosso Senhor. Se foi por meras razões humanas que lutei com feras em Éfeso, que ganhei com isso? Se os mortos não ressuscitam,“comamos e bebamos,porque amanhã morreremos”

Bem irmãos, e nossa igreja? E como será nossa construção? O que tenho eu a dizer a partir destas coisas?

O ser humano tem uma atração pela estabilidade, que na minha cabeça só pode ser explicada pela nossa atração pela morte, o estado mais estável e final da entropia que nos devolve ao caos.
E hoje eu acho que chegou a hora de fazer algo que está para ser feito desde Fevereiro de 2005 em meu coração. Dirigir um funeral.

Uma igreja tem sempre duas opções: Ser um organismo ou ser uma organização. Mesmo sendo as duas coisas, ela deve decidir o que é. Desde o começo dizemos dessa aqui ser um organismo, e agimos assim. Todo organismo nasce e cresce.
A igreja do Caminho nasceu evangélica, olhe ai nas costas de sua cadeira branca (para quem conhece nossas cadeiras). Logo, adolesceu Vineyard, passou sua crise de adolescência, se reproduziu como Do caminho e atua no mundo como Casa da Videira.
Há dois anos eu avisei que a vespa tinha mordido a lagarta (se você não entende a metáfora eu explico[1]), e que uma nova vida se gerava dentro dela.

Eu pessoalmente fui assumindo minha auto-excomunhão do meio evangélico. Já avisei algumas vezes e vou repetir: não sou evangélico, fui, não quero ser e nem serei. Não quero ficar explicando o mal comportamento, a sede de poder, as esquisitices e as maluquices de pseudo apóstolos, auto-proclamados teólogos e mentores espirituais, teólogos arrogantes desconectados da vida real, políticos da bancada evangélica (eu não tenho bancada mesmo e se tivesse seria composta de gente como o Gabeira e a Heloisa helena, a marina Silva e o Saturnino Braga, mas nem pra isso eu ligo como anarquista).
Sigo Jesus, dê você o nome que quiser a isso. E sigo esse crucificado, morto na cruz como perigoso inimigo do Estado, que demonstrou ser o Filho de Deus e salvador do mundo ao ressuscitar dentre os mortos, que venceu o diabo e suas hostes na cruz, que riu-se da morte na vitória do Domingo, que mostrou, na sua vida materialmente ressuscitada, que outro mundo é possível; subiu aos céus diante de 500 testemunhas, que deram sua vida por dizerem que viram o que viram e tocaram quem tocaram; que enviou seu Espírito Santo como consolador e presença em nós até que ele volte e sejamos restaurados completamente, uns pela ressurreição, outros pela transformação de seus corpos. Chame isso do nome que quiser, é nisso que creio.

Coletivamente, creio no corpo de Cristo, sua noiva, sua Igreja. Que devido a essa ressurreição, vive como se já tudo houvesse acabado, que não tem preguiça de se reunir, nem preguiça de trabalhar , nem preguiça de se comprometer com algo mais que seu ventre e seus apetites. Que busca sinergia para fazer diferença e anunciar esta mesma coisa: Um outro mundo é possível por que Jesus ressuscitou.

Nesse sentido, mesmo não mudando de nome, nem de estatuto, nem deixando de ter culto aqui no domingo que vem, hoje é dia de funeral. A igreja do caminho, a que foi, morre aqui. Não tem volta

33 -34 Não se deixem enganar: “As más companhias corrompem os bons costumes”. Como justos, recuperem o bom senso e parem de pecar; pois alguns há que não têm conhecimento de Deus; digo isso para vergonha de vocês.
O modelo inicial deste organismo deu o que tinha para dar, sinais de vida se apresentam numa intensidade enorme nos últimos dois anos de gravidez. De artes, crianças, bazares, festas, alegria, sabões, danças de salão, feiras orgânicas, casamentos e nascimentos, crianças melhores que nós e que fazem delícias caseiras, almoços, projetos, estudos, grupos, amizades, coisas lindas, reciclagem, costura, marcenaria, discipulado e educação, Brado, dança portuguesa, projetos, exposições, filmes e passeios. Estas coisas são sinais da ressurreição, é vida incorruptível. E como diz a Bíblia:
53-54 Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: “A morte foi destruída pela vitória”
e diante de olhar destas coisas
55 -57 “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?” O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
A palavra final se dá no último versículo do capítulo, uma dobradiça e um exemplo.
58 Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o
trabalho de vocês não será inútil.

Interessante notar o próximo versículo (lembre que esta é uma carta sem divisões artificiais em capítulos e versículos):

16:1-2 Quanto à coleta para o povo de Deus, façam como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vocês separe uma quantia, de acordo com a sua renda, reservando-a para que não seja preciso fazer coletas quando eu chegar.

Diante de um assunto tão espiritual, Paulo cai no assunto prático e segue em frente.

O que isso quer dizer e o que quero fazer hoje?

Se para você faz sentido isso que falei, eu peço que reconsidere sua vida. Se está tudo bem e certo, ótimo. Se seu motivo é a ressurreição, excelente. Se quiser participar do novo nascimento que ai está, vamos neste novo organismo, mesmo com o mesmo nome, ainda que temporariamente. Peço-te uma coisa, enterre o passado.
A IEDC morreu, A comunidade de Cristo morreu, a Vineyard do Caminho morreu, e não vão voltar. Temos isso aqui, uma igreja que vai passar a celebrar todo domingo um único assunto, que anuncia uma única coisa: Nosso Deus viveu, foi torturado e morto. Sepultado. Viveu de novo e mostrou que a possibilidade é real e concreta e nisso nos sustentam uma enorme quantidade de testemunhas, e quando duvidamos, seu Espírito Santo vem nos socorrer com intervenções milagrosas, coincidências, encontros e prodígios.

Se quiser seguir adiante, levante-se em sinal de respeito ao bom organismo que, morto, se vai, deixando-o para trás. E levante-se em sinal de compromisso com Jesus e com Deus, com a ressurreição. Levante-se em sinal de abandono de sua vida egoísta, levante-se para assumir uma vida sem exigências com Deus, mas de compromisso. Levante-se em sinal de feriado, de nova vida, de colocar de novo em prioridade estar com os irmãos e viver a celebração do ressuscitado.

Se Jesus não ressuscitou, não se levante, ninguém é obrigado a crer.
Se não quiser se comprometer com prioridade, fique ai. Se quiser o que já conhece, uma vez que aqui não o terá, fique em paz, você não está errado, está só no lugar errado.
Estou plantando de maneira assumida, a aprtir desse momento, outra igreja, mesmo que o endereço seja o mesmo, o lugar o mesmo, e algumas pessoas sejam as mesmas. Mas o sorriso é outro, o compromisso é outro e a mensagem ainda mais clara e única, com vidas e palvras: Jesus ressuscitou e voltará.

Você decide se quer ser parte dessa nova plantação, se não quiser, só mande um bihetinho, ou um recado por alguém.

Quer caminhar junto? Bem-vindo. Quer ficar na sua? Faça um favor a você mesmo: busque um lugar onde você não vá sofrer, em que terá suas necessidades atendidas e satisfeitas. Aqui estaremos ocupados e vivendo austeridade, celebrando, buscando descobrir maneiras relevantes de proclamar a ressurreição e trabalhando duro, e para variar sem dinheiro e dependendo de Deus. Não para sermos bonzinhos, isso nos tornaria dignos de compaixão. Mas buscando a maturidade, e esperando a volta final de Jesus.
I cor. 15: 21-29 Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dentre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem. Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder. Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. Porque ele “tudo sujeitou debaixo de seus pés”c. Ora, quando se diz que “tudo” lhe foi sujeito, fica claro que isso não inclui o próprio Deus, que tudo submeteu a Cristo. Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos.





[1] Referência a certas vespas utilizadas para o controle biológico de pragas de lagarta e que mordem as lagartas, que seguem vivas por um tempo e depois vão parando até morrer e virarem elas mesma um casulo onde se desenvolvem novas vespas, que um dia rompem a casca e saem voando.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Imagem é TUDO

Isaías 41:21-29 e 44:9-17

A etapa presente da história poderia se caracterizar pela expressão “Imagem é tudo”. Vale muito pouco o que se é, e muito o que se parece ser. Neste sentido é mesmo um mundo de ilusão. Mas por cada imagem produzida, a maioria das pessoas se dispõe a lutar para que a mesma seja mantida. Pior, por cada imagem 

a pessoa se dispõe a trabalhar, se esforçar, dedicar mente e coração, tempo e dinheiro.

Sem perceber, a imagem criada, de si, da sociedade, dos sistemas filosóficos, dos sistemas políticos - cada construção feita - vai tomando conta de nós e por elas trabalhamos, nos esforçamos, dedicamos mente e coração, tempo e dinheiro.

Mas o que é essa dedicação de tempo, dinheiro, emoções, intelecto, empenho e trabalho?

Isto é conhecido como adoração, que se traduz na dedicação total àquilo que considera-se como superior a si mesmo, logo a quem voluntariamente me subordino. 

Uma visão simplista busca qualificar como ídolos e imagens somente às esculturas e pinturas, o que nos faz  lembrar do Taleban quando, por zelo religioso, explodiu os budas gigantes no Afeganistão. A obsessão e o reducionismo a combater tais coisas demonstra somente a incapacidade de perceber que não é a escultura que precisa ser desmascarada, mas o que ela representa é que é o verdadeiro ídolo. Sendo assim, o altar a ser destronado e destroçado é o do coração, onde se aninham os ídolos1 que nos dominam a vida.

Os ídolos são bem mais que suas simples representacões esculpidas, pintadas ou na forma de logomarca. Eles possuem características peculiares e que podem ser reconhecidas a partir do texto de Isaías citado no subtítulo. A primeira delas é que os ídolos tem o hábito de dizerem poder prever conseqüências futuras caso não sigamos seu sistema de valores e de estabelecerem explicações sobre o passado que demonstrem sua superioridade. São especialistas em futuro e passado, usando lógicas próprias que lhes garantam o domínio presente. Outra é que os ídolos gostam de prometer o melhor para depois, e pedem por isso a sujeição do hoje baseada em suas promessas.

Observe alguns dos ídolos presentes: o mercado, a beleza, o dinheiro, a influência, o desenvolvimento, o progresso, a carreira, o reconhecimento público; ou alguns dos ídolos anteriores: o estado, os sistemas políticos, o partido, o pensamento científico, o materialismo.

São alguns exemplos de coisas pelas quais as pessoas empenham a vida e os recursos que possuem, que prometem um futuro melhor, que explicam como o passado clamava por eles que agora chegaram, e que sem eles agora tudo daria errado, que assim nos fazem temer perde-los – pense no seu emprego - e que Deus desafia em Isaías 41:23 “Façam alguma coisa, boa ou má, para que nos rendamos, cheios de temor”.

Isso mesmo, por que nem mesmo ao fazer o mal tais ídolos tem conseguido manter a palavra final, independente de todas as desgraças que causam, a história demonstra que mesmo ai, mesmo coisas terríveis como o nazismo ou o Stalinismo, o sistema feudal ou a escravidão no Brasil, acabam perdendo seu poder absoluto e mostrando que nem mesmo seu mal é permanente.

O problema com a falsidade dos ídolos não reside em que eles sejam inexistentes, mas em que não são os deuses que afirmam ser. A Bíblia não nega sua existência, como seria ridículo negar a existência das coisas acima citadas. O que ela nega-lhes é o altar, é o poder de determinar nossas vidas, e acima de tudo, de possuir nossa força, sentimentos, tempo, recursos e inteligência; é negado a elas o nosso amor, manifesto em tais coisas.

No capítulo 44 de Isaías, os ídolos são reduzidos ao que verdadeiramente são: instrumentos, meios, combustível, coisas que deveriam estar a nosso serviço e sob nosso controle enquanto simples coisas, mas sobre os quais, iludidos, depositamos nossas esperanças e gritamos “Salva-me, tu és o meu Deus”. Duvida?

Pois na hora que a coisa aperta em quem você confia? De onde espera a solução?

O que ouço das pessoas é que seus problemas acabarão quando tiverem dinheiro, um emprego, ou se entrarem no mercado, ou se não saírem dele, ou se ganharem uma causa na justiça, ou se a lei mudar, se o governo mudar, se a política, a educação ou o partido se tornarem prioridade, se chegar o desenvolvimento, se ganharem uma carreira, se outra ideologia se tornar dominante, seja ela ecológica ou tecnológica. Ao dizermos isso transformamos tais coisas em deuses, ídolos, e nos subordinamos a eles.

Ao contrário disso a Bíblia nos lembra de dois fatos: que temos uma dignidade implícita que deveria ser um freio em nossa tendência de nos inclinarmos, sujeitarmos e entregarmos a qualquer coisa que nos tome a liberdade, e roube a autonomia. E que temos somente um Deus, um Senhor de onde provêm nossa dignidade, uma vez que fomos criados à sua imagem e semelhança, para que tivéssemos uma relação com Ele, baseada na liberdade e na insubordinação às coisas e na amizade com Ele.

As coisas são coisas, podem ser boas ou ruins, usadas ou não, abandonadas, substituídas, superadas, revisitadas, mas são sempre relativas a um tempo, espaço e contexto. Muitas vezes podem ser úteis e delas podemos lançar mão ou não, nada mais, nada menos que isso. E só isso. Não é necessário negar sua existência ou utilidade, ou que se lhes deve negar é o status de deuses, de referências para nossas vidas.

Somente Deus tem a palavra final, somente Ele garante o futuro, somente Ele explica o passado, garante o presente e aponta o futuro de maneira confiável, seja pelo bem histórico e durável que realiza, demonstrado de maneira definitiva com o fato da ressurreição de Jesus, seja pela maneira definitiva como, quando sua mão pesa com justiça sobre algo, esse algo simplesmente deixa de existir, se extingue e vira peça de museu.

Melhor confiar nele que nos ídolos do presente.


“todos os que fazem imagens nada são” Is. 44:9 


1- Luiz Eva tem um excelente artigo onde citando Francisco Toucinho (também conhecido como Francis Bacon) diz: “Bacon distingue quatro espécies de impedimentos que atuam contra nossas pretensões de obter a verdade: os “ídolos da raça” (idola tribus), decorrentes das imperfeições de nossas faculdades de conhecer — seja o intelecto, comparado a um espelho deformante que, exposto aos raios das coisas, mistura sua própria natureza à delas, falseando e embaralhando; uma faculdade refém de erros sistemáticos que ela própria é incapaz de corrigir, seja pelas suas próprias forças, seja com o auxílio da dialética; sejam as imperfeições dos sentidos, que, embora constituam a instância à qual se deve tudo perguntar na pesquisa da natureza, diz ele, “a menos que se queira delirar”, são por si algo de fraco e enganador e não podem, quanto a isso, ser auxiliados pelos instrumentos inventados para aguçá-los e estender seu alcance. Em seguida, os “ídolos da caverna” (idola specus), gerados, segundo Bacon, pela diversidade própria da natureza de cada indivíduo, e dependentes das diferenças do corpo, da alma, da educação, do hábito, das circunstâncias fortuitas e do modo como são afetados pelos objetos. Já os “ídolos do foro” (idola fori) são aqueles particularmente residentes nas imperfeições da linguagem humana, enquanto que os “ídolos do teatro” (idola theatri) são aqueles pelos quais Bacon metaforicamente alude aos mundos imaginários inventados pelos diversos sistemas filosóficos vigentes, constituídos por noções fantasiosas e imperfeitas (dentre as quais ele enumera as de “ser”, “substância”, “elemento”, “matéria” etc.) e por demonstrações defeituosas que são, nas suas palavras, os sistemas em potência.” EVA, Luiz A. Sobre as afinidades entre a Filosofia de Francis Bacon e o ceticismo. Belo Horizonte:  KRITERION, nº 113, Jun/2006, 79. 


quinta-feira, 17 de julho de 2008

Consertar ou Concertar?!?

Adoro diálogos com dicionários,os tenho desde menino, e tiro deles muito contentamento. Me lembro de ser sua leitura uma das coisas que me dava prazer quando eu era pequeno e de como descobrir as palavras me proporcionava alegria.

Um dia desses, inspirado por algumas imagens oriundas da pesquisa de uma amiga com música, resolvi brincar com o Houaiss, meu dicionário predileto, e manter com ele um diálogo, assim como quem conversa com um amigo.

Com o desconcerto do planeta e seus habitantes, me pus a pensar: Do que precisa este mundo? Conserto, ou concerto?

E descubro, para minha surpresa, que até o final do século XIX, a língua portuguesa só registra concertar com c. Consertar com s, portanto, é uma especialização recente, que faz com que diversas das acepções dos dois verbos se mesclem.

Quem sabe mesmo se ao concertar a gente não esteja mesmo consertando alguma coisa que se quebrou em nossa existência coletiva... Porque agrupado em concertar, se encontram as acepções que se aproximam de 'harmonizar, pôr em acordo', e em consertar, as mais correlacionadas com 'reparar, remendar'. Uma buscando a outra, uma completando a outra...

Muita gente acha que este mundo não tem mais jeito nem salvação, já outros mantém a esperança de que seja possível. Como a salvação não é mesmo ir para o céu, mas colocar o separado junto de novo – do grego soteros, de onde vem nossa palavra sutura - ao concertar, colocamos em harmonia o que se perdeu e damos à imagem quebrada em nós a chance da reparação, e em certo sentido antecipamos a harmonia e a beleza de levar o outro em conta e viver em um mundo muito diferente desta ruptura geral na qual vivemos ao nos tornarmos o estranho paradoxo de podermos ser um ainda que sendo cada um.

Isso é possível porque concertar como verbo é transitivo direto, transitivo indireto e pronominal e sempre é pôr-se, ou estar, em harmonia, em acordo; harmonizar, acordar, conciliar. Mas só pode fazer isso ao ser bitransitivo, pois que deve entrar em concerto, em 'acordo comum'; deliberar em conjunto, tramar de comum acordo; pactuar, combinar, concordar... para então surpreender.

Mas não faz isso em secreto, mas em cima do palco e na porta de entrada como quem "conserta a entrada com uma guirlanda de flores", que todos sentem e apreciam, e chama atenção, mostra o belo ao colocar enfeites; ornar, enfeitar, ornamentar.. todos sinônimos esquecidos da concertação.

E não fica só no estético o ato de concertar, senão que no prático, acertando os detalhes do palco da vida, um sabendo olhar pro outro para juntos fazer a instalação concertada de algo maior; construir, erguer, montar, armar.

Mas até chegar lá demanda treinar a execução ; preparar, ensaiar, ensaiar e ensaiar. Até concertar.

Mas quando concertar era latim, concertare queria dizer combater, lutar; rivalizar, porfiar; discutir, disputar, argumentar, e me ponho a pensar ... mas como???? Então sou lembrado de que quem acerta, em um certame, entra nele para terminar o que ficou mal resolvido, na medida em que qualquer luta visa a um ajuste, a uma ordem, buscando concertar algo que se achava confuso, ou injusto ou mal.

Assim, se este mundo me deixa desconcertado, sinto que preciso me armar e ir para a luta, e que não vão ser outras armas que me trarão a ordem pela qual clama a minha alma, a não ser um belo concerto, uma harmonia de vozes, a combinação dos sons e o enlevo das notas. Lutar com arte, com acordo, com harmonia, com diálogo, escolhendo o inusitado para por um fim nesta questão.

(para Tina e Helma)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Hominizados ou Humanizados?

Deus tem planos bons para nós. Como Pai ele tem intenções e desejos de proporcionar o melhor. Eu sinto o mesmo com relação à minha filha, a quem amo profundamente e com grande carinho. Eu quero, assim como Deus quer pra mim, o melhor para ela. São planos de amor, paz, segurança; um desejo enorme que ela realize sua humanidade plenamente e que não entre pelo caminho do "ser menos", mas que explore aquilo para o que ela foi criada: a plenitude da experiência humana.

Na verdade, esta minha relação com minha filha - traduzida em atos de amor, cuidado, estabelecimento de limites, disponibilidades de oportunidades e a busca de proporcionar experiências gratificantes, a inclusão dela em uma comunidade, dar-lhe um nome, ambientá-la com as melhores pessoas possíveis, permitir o estímulo de sua inteligência – é somente um reflexo do mesmo desenho de relação de Deus para comigo e para com todos.

Em troca existem poucas demandas, mas a principal delas, e a que mais provoca a tristeza e indignação é quando sua inclinação natural, como a de todos nós, a leva a diminuir a humanidade nela para sujeitá-la ao reino dos instintos.

Como animais, temos ampla relação com o resto da natureza e compartilhamos não somente genes – para os evolucionistas mais entusiasmados somos 99% semelhantes geneticamente aos chimpanzés... e 25% iguais a uma banana ainda que isso não me faça inclinado a imergir-me em uma salada de frutas. São diferenças percentuais pequenas, porém não são nem os 75% de diferença de uma banana, nem mesmo o 1% de um chimpanzé, que me tornam diverso e particular em relação aos meus irmãos e irmãs da natureza criada. O 1% que falta ao chimpanzé é somente a quantidade de genes que serve para me hominizar. É uma outra peculiaridade, para além da genética, a que é capaz de me humanizar. É a imagem e semelhança com Deus em mim, mediante a presença de seu sopro, seu Espírito, que me torna mais que animado, me faz vivente.

Esta ligação íntima, perdida quando sou - como parte da humanidade - levado a me tornar minha própria referência, pode ser recuperada mediante a mudança de minha mente, a submissão à Deus e ao seguimento de Jesus. E o que torna possível a ele tal capacidade é o cancelamento das barreiras que impedem a plena humanidade realizado pela encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus, que assim tomou sobre si as conseqüências de nosso devaneio antropocêntrico e antropolátrico1.

Pois bem, mas estes desejos e o cuidado de Deus por nós, revelados em textos bíblicos como o Salmo 92, ou Levítico 26:3-13, não é nem automático, nem proporcionado por um pai leniente ou caracterizado como um papai noel espacial. Eles são frutos da interação do desejo do pai, com a atitude dos filhos, com a escolha entre a apática inclinação para atender aos impulsos e instintos, ou à intencional atitude para superar-se e aproximar-se cada dia mais do pleno desempenho de nossa humanização e o florescimento de nossa humanidade.

Não vivemos em um mundo onde o bem é determinístico, nem o mal pré-determinado, não estamos sujeitos a um destino inescapável. Ao contrário somos parceiros de Deus na história e o bem e o mal são fruto da interação entre o desejo de Deus, as condições objetivas da realidade e de nossas escolhas. No próprio texto de Levítico 26, a partir do verso 14 temos o aviso das conseqüências. Não são castigos de um pai irritado com o filho rebelde, são explicitações das conseqüências, que da mesma forma que as boas promessas, provêm em última análise das mãos do mesmo Senhor, fonte de todas as coisas. No relato do texto é interessante notar que as "repreensões" tem a finalidade do retorno ao desfrute da plenitude, até o ponto em que a escolha leve a ser espalhado, desestruturado e dissolvido, e percebe-se, mesmo nessa situação, um insistente pai restaurador.

Mas, como seria possível resumir as condições para o experimento e desfrute desta plenitude, da plena liberdade ( Lev.26:13) e da autonomia (I Tess. 4:12b)? Em resumo encontramos duas condições e algumas descrições em I Tessalonicenses 4:1-12:

1- Abstenção da imoralidade;

Este é um tema tenso para tratar, uma vez que a primeira coisa que vem à mente é o moralismo, uma ideologia não melhor que nenhuma outra. Vivemos em um tempo de disponibilidade desenfreada de satisfação de toda e qualquer pulsão sexual,e uma posição moralista pode ser uma resposta fácil a um tema difícil. Estamos expostos a cenas diversas, das picantes insinuações à pornografia explícita, da frouxidão ética à propaganda da libertinagem, da presunção de naturalidade em relações escandalosas, à sexualização das opções de compra. Posso parecer moralista, mas pediria um minuto de seu raciocínio.

Somos parte da natureza e como tais providos de instintos que nos foram concedidos com a explícita função de sermos capazes de transmitir nossos genes adiante. Temos isso em comum com insetos, répteis, mamíferos e todas as formas de vida. Sendo parte das formas superiores de vida, esta atividade é carregada com uma característica especial denominada prazer. A satisfação da possibilidade de prazer tem seu caminho mais curto na atividade sexual. Acontece que diferente dos demais animais temos a possibilidade de executar abstrações, imaginar e planejar com o objetivo de obter tal prazer e, para nosso espanto, descobrimos em nosso processo de humanização outras formas de prazer possíveis e para além da sexual: nos esportes, na leitura, na arte, na criação até a mais elevada forma de prazer: o deleite de estar com Deus.

Uma das formas, já bem descrita por Freud, de experimentar estes outros prazeres e estabelecermos mais conexões entre nossos neurônios, inventarmos mais, criarmos mais é evitamos o caminho fácil e disponível da obtenção deste prazer e da satisfação de nossas pulsões de forma rápida e intensa pelo sexo.

O sexo é ÓTIMO, ótimo sempre e em qualquer idade, e esse é o negócio. Por ser ÓTIMO, podemos simplesmente obter tudo o que queremos em termos de prazer sem grande esforço, como quem come chocolate, açúcar, ou carne para obter a energia, as calorias e as proteínas de que necessita. Nada contra chocolate, algum açúcar e até mesmo alguma proteína animal, mas todos sabem o que se obtém junto com a energia, calorias e proteínas de uma dieta exclusiva: obesidade, doenças degenerativas e alterações de humor. Da mesma forma, a imoralidade sexual proporciona rapidamente o que de outra forma seria um enorme diferencial na vida, levando-nos a cada vez querer mais e com um pequeno detalhe: tornando-nos mais ignorantes, burros, ansiosos e com muito menos conexões cerebrais. Isso acontece porque nossos neurônios não são forçados a buscar vazão para nossa pulsão, não temos de criar novas conexões. Por isso, por exemplo, que estender o tempo de ser criança, evitar a sexualização precoce – uma praga em nossa cultura leniente, e estabelecer limites e freios tem bem mais a ver com ser inteligente, criativo e genial do que simplesmente uma escolha moralista burguesa. Isso cria barreiras não simplesmente morais, mas acima de tudo nos livra da ansiedade do consumo, de sermos vítimas fáceis das compras por impulso, da obtenção do prazer fácil do entretenimento, e abre a porta à geração de cultura. O sexo, é como um rio, mantido em suas margens e contido pode gerar energia indescritível, deixado transbordar e extravasar sem limites causa destruição, morte e dependência. Sinceramente, bem mais que um problema de moralismo.

2- Amar o seu próximo como a você mesmo.

O texto de Tessalonicenses diz: "Ninguém prejudique seu irmão, nem dele se aproveite". A segunda chave é essa. Simples e dependente do reforço da autonomia pessoal. A negação dessa possibilidade nos leva a buscar contratos, regulações, pacificações, restrições, governos, polícias e políticos.

Pois é... você reclama dos políticos? Pois eles existem, na forma que existem, por que você delegou a regulação de seu relacionamento com seus próximos a outras pessoas que não você mesmo. Como dá muito trabalho amar e dar ao outro o que você gostaria de ter, você acaba arrumando um governo para te taxar, multar, controlar, impedir, autorizar, prender, punir, achacar, restringir, limitar, remover, prescrever, legislar, determinar, azucrinar, mentir e outras coisas que eu não preciso te lembrar.

A malandragem, se dar bem, passar na frente do outro na fila, ocupar aquela vaga no lugar do outro, achar que tem mais direito que o outro no trânsito, retirar os espaços de convivência de sua vida, agir com esperteza em contratos, tirar vantagem da distração do outro, são práticas que só chamam a atenção quando são grandes e observadas nos outros. Mas são a fonte da ruína e da opressão, da violência e da injustiça, marcas tão fortes em nosso contexto brasileiro. De novo, tais coisas não podem ser tratadas somente de um ponto de vista moralista, mas de muito mais profundidade.

Viver de tal forma traz vantagens, permite alguma obtenção de prazer e satisfação imediatos, mas torna insustentável a comunidade. Vivemos uma crise de violência em escalada inimaginável, matamos tanto quanto em qualquer guerra, deixamos a natureza ser dilapidada e recursos que pertencem a todos serem consumidos por poucos e esgotados. Onde isso tem nos levado? Onde irá nos levar? Que esperteza nos manterá como espécie? Até onde a fé na tecnologia vai enganar a você? Ou nem dá para perceber que, ainda que houvessem tais soluções tecnológicas para os problemas citados elas seriam sempre para poucos e para os mais espertos? A não ser que você creia que um dia um foguete socialista vai nos levar a outra galáxia a todos para tentar de novo...

Cortando as firulas e rapapés Deus chama as duas formas de lidarmos com nossas pulsões – o egoísmo e a imoralidade – de IMUNDÍCIE. Que é sinceramente a condição na qual se vem estabelecendo no planeta, tanto do ponto de vista ambiental quanto do ponto de vista moral (tem dúvida vai dar uma volta no seu quarteirão, te juro que não precisa ir ver o desmatamento no Mato Grosso, nem freqüentar o congresso nacional ou participar de alguma da orgias semanais promovidas por grupos 'liberais').

A agenda de Deus pra nós não é complicada, e começa com coisas bem simples em conseqüência desta reflexão:

Esforcem-se para ter uma vida tranqüila:

1- cuidar dos seus próprios negócios e trabalhar com as próprias mãos

2- andem decentemente aos olhos dos que são de fora

3- não dependam de ninguém

Parece simplista? Bem, assim pensava a sua avó, e antes dela várias gerações que a precederam, e ao contrário disso pensaram muitos impérios, que existiram antes de nós, que hoje observamos nos museus e dos quais podemos saber qual foi o fim. Cabe a cada um fazer a sua escolha: parte do problema, ou parte da solução, dela depende o futuro, nosso e da humanidade.

1 Dicionário Houaiss: substantivo feminino 1-adoração do ser humano deificado; 2 - culto a um deus que apresenta forma humana 3 -Rubrica: história. heresia nestoriana que negava a divindade de Jesus Cristo.

sábado, 12 de julho de 2008

Video blog... Sejamos realistas, peçamos o impossível

Eu estou sem muito tempo para escrever aqui. Isso não quer dizer falta de produção, na verdade tem mais a ver com outras produções.
Na verdade minha caneta é a palavra, gosto de falar, desavergonhadamente sou um falante, desfruto no falar de um prazer que somente é refreado para me forçar a escrever pela convicção de que escrever, comparado ao falar, é um ato cirúrgico muito superior , enquanto o falar se assemelha por vezes à prática bagunçada de um matadouro, sem muita precisão ainda que com alguns resultados.
Sendo assim, enquanto tenho escrito o que falo ( à mão e com caneta tinteiro) como forma de registro, aqui vou colocando minhas leituras comentadas de meus escritos sobre o tema na forma de vídeo.
Também, dentro do possível vou colocando uns roteirinhos ai pra seguir a fala. E no meio disso vou postando o que for possível.
A série usa como fio condutor a obra de Walter Brueggemann - Imaginação Profética - mas pega carona em conceitos de outros autores (BLOCH e Boaventura) , a idéia é ter de 7 a nove encontros, com alguns convidados eventuais, para , em um ambiente dialogal como sempre discutir o tema.
Uma boa preparação, se alguém deseja se aprofundar nisso, seria ler a Bíblia. Em especial as histórias do Império Egípcio, de José a Moisés, as descrições do Reinado de Salomão, O contexto dos reinados de Josias, Jeoacaz, Jeoaquim e Zedequias; uma lida em Lamentações de Jeremias. O livro de Mateus, em especial o falso reinado de Herodes e de seus sucessores. O livro de Lucas, em especial o falso poder romano. Os relatos da ressurreição.
Pode ser boa matéria para conhecer a Bíblia nos próximos dois meses e pouco, e não é muito dado o tempo.
A seqüência de estudo proposta está abaixo e o plano da conversa a seguir está descrito. Para quem tiver interesse eu vou postando um planinho de aula a cada semana.
O vídeo abaixo é da primeira parte da introdução ao tema que consta:

I – Introdução ao Tema:

Referência acadêmicaWalter Brueggemann, Boaventura de Souza Santos, Ernest Bloch.

Personagens Bíblicas a serem estudadas na sérieMoisés, Salomão, Jeremias, Amós, Jesus

Alguns Impérios historicamente produtores do Pensamento Hegemônico a serem abordados:

Império Egípcio – Divindades Subordinadas e a serviço do aparelho do estado

Império Salomônico – O Deus domiciliado e a subordinação ao pensamento Imperial

Império Romano – O Eterno agora e A Paz duradoura

O Império Cinza – desafios proféticos hoje

1- Introdução aos conceitos da Imaginação Profética (parte 1)

A - A bíblia enquanto promotora de uma nova convivencialidade (vizinhança/comunidade/aliança) de paz, amor e justiça.

B - Subversão e Utopia

C - Profecia – O que é, o que comumente não é, o papel da linguagem artística na profecia. Dissensão e Ação.

D - Soteriologia da Apatia (ou como uma determinada visão de salvação gera desespero e adormecimento)

E - Ferramentas do Império – Adormecimento e Desespero

F - Funções Proféticas – Critica e Incitação (energização)

G – A cor púrpura - Opressão, desespero e Status Quo. Igreja como comunidade da Esperança.

(dica: para ouvir as mensagens faça assim: dê um clique em play, espere começar, clique para dar uma pausa e vá tomar um cafezinho ou preparar um chá. Na volta, dê clique de novo.. assim o vídeo fluirá melhor, sem interrupções e você não perde tempo)



- A funny movie is a click away

Semana que vem a segunda palestra -